domingo, 28 de dezembro de 2008
Bússola
Vento vagante em meu peito imerso
soprando palavras sem rumo nem rima
num mar de poemas ainda disformes
decerto deserto de versos diversos,
Lúcidos.
Decerto bússola de agulhas incertas
Disturbando o nauta que, embora poeta,
explora inseguro seus versos-dilemas,
prendendo palavras que estavam libertas,
e livrando os sentidos de suas algemas
Ácidas.
Sopra, brisa pungente, minha vela reclusa!
E move esta nave donzela a epopéias bravias
para as águas gestantes de vãs poesias,
para os mares sedentos desta proa intrusa,
Límpidos.
Cruza percursos remotos privados de mapa
e brevemente (que és só fôlego e mocidade)
leva meu poema a mergulhar na saudade,
mas batiza-o somente na palavra que me escapa
Líquida.
Depois traze-o certeiro a esta mesma embarcação,
pois se a rosa-dos-rumos converteu-se na dos ventos,
um sopro que me venha há de mudar-se em alento
e transbordar de poesia o navegante coração
Ínfimo.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Cafezal
Um cheiro vivo cafeeiro pela estrada
Entrando sacro pelo vidro do meu carro
Entrando intruso, meio que tirando sarro
Trazendo à tona aromas doutra temporada
Fragrância alheia aos que habitam as cidades,
Porém perfume a quem do mato se enamora.
Canção da terra incensando a santa aurora,
Louvor-viola arando o peito de saudades...
Reduzo a marcha, estaciono um momento.
Até me vejo bem piá sobre um cavalo,
voando altivo pelo campo tal qual vento.
E ainda escuto a voz materna assim chamá-lo:
— Vorta depressa, pelo Santo Sacramento!
Bendito o cheiro da infância que eu inalo!
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Pietà
sábado, 1 de novembro de 2008
Côncavo
Tem quem viva mesmo morto
Há porém quem venha lúgubre
Tem quem ande mesmo torto
Há também quem cresça ínfimo
Pois se há quem vença sem conforto
Também tem quem nasça póstumo
E embora encontrem mesmo porto
quase não há quem mude o hábito
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
Uma xícara premiada
Estou feliz. Comecei a escrever há pouco menos de quatro meses e estou colhendo agora os primeiros frutos. O poema "Xícara", simples e breve como um cafezinho, ficou em 1º lugar no Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio 2008, concorrendo com quase 200 outras poesias válidas inscritas.
1º Lugar - Poesia: Xícara
Membros da comissão de avaliação
Profª Ms. Solange Moreira
Professora Universitária e Crítica Literária
Rosangela Dias Motta
Poetisa e Comunicadora Social
Davi Mourão Motta Drummond
Poeta e Diretor do Projeto Poesia Pública
Um cafezinho pra comemorar!
sábado, 25 de outubro de 2008
A Revolta dos Fantoches
Negligência sangüenta
noutro mundo paralelo,
um fio se arrebenta
E me rebelo
Um cenário bonito
espetáculo desonesto.
Mesmo aplaudido,
Protesto
Ainda amarrado, suspenso,
ao menos por dentro me solto
ao menos assim me pertenço
Me revolto
O manipulador manipula dores
em movimento modesto
E sem muitos rumores
Contesto
Mas até quem comanda
volta e meia cai no sono
E o nó então se abranda
E revoluciono
A pena porém de quem se mete
a desmerecer tal "obséquio"
é voltar pó ao baú das marionetes
é voltar só à mesma caixa de presépio
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Tempos Birutas
Ontem, enquanto apagava uns malditos spams na minha caixa de entrada, vi que tinha recebido um e-mail do Arleto Rocha – grande poeta peabiruense – falando sobre meu blog. Depois da devida permissão, publico o seu texto, honrado e agradecido. Ei-lo:
Nessas bobeiras que a gente tem de ficar fazendo nada a frente de uma Internet que supostamente nos propicia fazer tudo (que embuste), ao Google na procura do não sei o que:
- “Peabiru”
Vinte e tantas paginas. Fiquei na primeira.
Acrescentar outra palavra, sair da rotina.
Na digitação de dois dedos (Professor Expedito que não veja isso nas aulas de datilografia) um sufixo involuntário:
- “Peabiruta”.
Primeira página. Nada.
Segunda: teu blog.
Muito legal a estética, longe da formalidade dos que vejo por aí. Nota 9,9. (Explico: pois como disse uma professora da faculdade “10 só para Deus”. Enchi a prova dela com citações bíblicas relacionadas com a disciplina agrária de seu magistério. Deu-me 10, às escondidas, chamou-me de anjo e pediu para nunca mais eu fazer isso: ciência e religião, um perigo). Às escondidas, 10 pelo teu blog.
Chamou-me a atenção sua crônica “Anel de Tucum”. Leitura fluente. Eu que dialogo com os cães (os meus e os da rua) e samambaias vi-me dirigindo o neo-realismo da cena. O Cão e o cara sob a noite.
Predestina-me também este teu talento de ouvir estranhos. Outro dia, sentado ao balcão de um boteco da rodoviária de Curitiba, esperando o ônibus as 13, sendo ainda 10, o sujeito me disse:
-Bebendo cerveja nesse frio!
Olhei, o cara sorriu, o outro, junto, em silêncio. Ventríloquo, falava por ele e por todos. Desandou a dizer que a mulher do amigo, esse aí em silêncio, tinha o largado, e agora voltava para uma reconciliação, lá em Faxinal, depois de Ortigueira, antes de Apucarana.
Da primeira até a segunda cerveja, a historia do amigo, na terceira a dele, até pedir minha opinião:
-Será que ela o aceita de volta?
O ônibus era as 11. Foi. Feliz por eu dizer que sim. Pagou-me as três cervejas, mesmo dizendo que a prefeitura de minha cidade arcaria com as Kaisers bebidas.
Pela porta, bolsa nas costas, o falante para o amigo feliz e sempre quieto:
-Num disse que você vai ter ela de volta.
Na cidade da Lapa, em um evento de premiação literária, tarde da noite no vento sulista descobri que não existia hotel aberto àquela hora. Minha bagagem dormindo no guarda volume da rodoviária fechada e eu pelo lado de fora com dez exemplares da antologia publicada. Deitei-me no banco de madeira dos taxistas:
-Vende livro?
Para evitar dizer que eu escrevia (um crime nesses dias de espíritos embrutecidos) disse que sim:
-Sim.
Encolhi os pés, ainda com a cabeça nos livros, feitos travesseiros. Depois me levantei de vez. Outro taxista sentou-se ao lado.
A vida inteira dos dois, uma tia-avó em Nova Cantu e a escalação completa do Coritiba e do Atlético.
-Torce pro Coxa ou pro Atlético?
-Grêmio de Maringá.
-Esses livros que vende é de quê?
-Poesia.
-Leia uma.
Escolhi a minha, e li sem dizer que era minha. Fizeram cara de desaprovação e de quem não entendeu nada. Voltaram a Tia-avó em Nova Cantu e ao futebol curitibano.
Café, pão e os livros.
Conversas estranhas com conhecidos também não é novidade, talvez, como você disse, por essa nossa vocação de ouvidos mais que boca:
-Faço tudo e nada está bem, num dá mais pra continuar assim, o jeito é terminar mesmo...Nunca, nunca mais quero vê-la.
Dois dias depois, juntos.
Mas essa coisa alem do entendimento pode ser fruto dos dias. Culpa nossa, pois pela tecnologia conversamos com gente que nunca conhecemos, pelos orkuts e MSNs da vida, sem falar no celular que virou extensão da mão humana, um órgão do corpo, muito embora crio um espanto a todos quando digo que não tenho e não gosto. Um apêndice sem função para mim.
Teclando o Google, para bisbilhotar todos e ninguém.
Tempos birutas.
Peabiruta.
[Arleto Rocha]
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
sábado, 13 de setembro de 2008
Da sacada
Quero escrever a palavra mais linda
e deixar pelos muros versos suaves
Quero entrar na casa da poesia
e da janela translúcida, intruso,
olhar o mundo além dos horrores.
Quero ver a vida, ainda intruso,
além da fachada, cinzenta, fechada.
Quero, da mesma janela poética,
coser saberes, gozar sabores,
olhar o mundo além das dores,
e escrevê-lo mais bonito,
embora limitado,
como senhor sem vassalo,
como rei sem castelo,
cavaleiro sem cavalo,
escrevê-lo mais belo,
já que só a beleza haverá de salvá-lo.
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Peabiru
Torre altiva acenando no horizonte
com sua cruz
como que tirando sarro
Minha cidade sorri atrás do monte
à meia-luz
bem à frente do meu carro
Reduzo a marcha
Contemplo o brilho
Respiro fundo
Um vento cálido ali me espera
Soprando meu peito em brasa
E me dizendo em voz sincera:
— Estás em casa! Estás em casa!
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
terça-feira, 2 de setembro de 2008
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Alvorada em minha Pátria
No vasto solo do meu espírito poeta
Onde eu cultivo tantos sonhos e promessas
Ressoa o eco da canção da minha terra
Feito cantiga aveludada que dos ouvidos se aproxima
Feito poema à singeleza que transcende qualquer rima
Poema insigne que venera uma beleza sempre eterna
Canção amiga cantada em verso, musical língua materna
Ressoa em súplica que sobe em paz na alvorada
E se propaga aqui por dentro construindo uma morada:
Deus te salve, ó minha Pátria, meu quintal amplificado!
Que te acolha vaidoso como o Cristo em Corcovado
Que te benza sorridente aspergindo-te Iguaçu
Que percorra os teus caminhos, entre os quais, Peabiru
Deus te beije, jardim jovem, o horizonte majestoso,
E sopre um hálito de vida na bandeira que sustentas
E outro hálito de paz em quem hasteia-te orgulhoso
Que teu eco esteja sempre aos meus ouvidos qual canção
E esperança seja o sonho que se encontre em minha mão
Pois o som do teu hino pelas ruas do desterro
Estremece até a alma neste peito brasileiro
domingo, 31 de agosto de 2008
Visitantes recentes
O que querem insistentes
e que buscam [me perscrute]
os "visitantes recentes"
que vasculham meu Orkut?
E por que tal descaso
em me deixar só pegadas?
Se me visitam por nada,
o fazem só por acaso?
Quem serão esses vultos
que me deixam inquieto?
Serão amigos secretos
ou inimigos ocultos?
sábado, 30 de agosto de 2008
Jovita Xavier Padilha
Tia Jovita
mulher gigantesca
versão gauchesca
de Maria Bonita
Jovita Padilha
de olhar farroupilha
de bota e bombacha
fingindo ser macha
chapéu e chicote
sem luxo ou fricote
Tia Jovita
pioneira tão brava
feita em Guarapuava
onde a saudade palpita
Jovita Xavier
esculpida mulher
em madeira de pinho
pelo seu Sertãozinho
modelada senhora
no inverno de outrora
pelo findo presente
que faz tão-somente
que a vida da gente
vire foto amassada
em outra temporada
[que disparate!]
Saboriemos o mate,
enquanto está quente
antes que o poente
nossa cor arrebate
Aproveitemos o mate,
que no fim, veja só,
tudo volta a ser pó.
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Miopia
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Antagonista
Amplitude e exigüidade
Começo e extremidade
Injustiça e eqüidade
Egoísmo e caridade
Brisa e tempestade
Soberba e humildade
Repulsa e saudade
Opostos de verdade?
Frieza e emoção
Conserva e supressão
Parcimônia e profusão
Meiguice e sequidão
Prazer e aflição
Descuido e precaução
Demora e lentidão
Fazem mesmo oposição?
Tristeza e alegria
Marasmo e energia
Franqueza e hipocrisia
Sossego e euforia
Realidade e fantasia
Gentileza e grosseria
Barateza e carestia
Representam ironia?
Palavras que equilibro
E não faço acepção:
São antônimas no livro,
Mas iguais no coração.
Crise
Ou será que é a poesia que faz birra de vez em quando? Talvez seja isso. O fato é que hoje vou dormir sem verso.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Cerejas
Padre Jerônimo não é o único que não entende "essas coisas brasileiras"...
domingo, 24 de agosto de 2008
13
Guerra troiana há 13 séculos de Cristo,
amor de Páris por Helena jamais visto
que se repete ao século XIII, temporada
de amor anônimo em pleno viço das Cruzadas.
Eram treze à távola d'último jantar
São trezes rosas à Rainha do Mar
Treze é primo, é seqüência Fibonacci,
Mistério ágata de treze vívidos quilates.
A 13 de maio na Cova da Iria,
Uns piás enxergaram a Virgem Maria.
Noutro 13 doutro maio, por ventura,
se pretendeu amenizar a escravatura.
Treze romances de Nadine Gordimer
Treze epístolas de São Paulo em turnê
"Até quando, ó Senhor, te esquecerás?"
Pergunta o Salmo [que é 13, aliás]
Treze virgens no paraíso de Allah
esperam o bravo que morrer sem reclamar.
Treze ramais cortando o velho Peabiru
Treze pátrias pela América do Sul
Die Dreizehnlinden apelidada Treze Tílias,
de onze estátuas e outras duas maravilhas.
Treze profetas escritores tem a Bíblia
Treze zepelins dispararam contra a Líbia
Aos 13 anos se descobre a adolescência,
e com mais 13 é que se paira a sapiência.
E até a bola, mesmo que se aburguese,
também depende um tal Clube dos 13.
"Treze Homens e um Segredo" no cimena
"Jim Knopf e os 13 Piratas" sem problema
Verei depois da 13ª pétala da idade,
se o bem-me-quer que diz a flor será verdade.
Só saberei se a flor não for tão insensata,
quando vier o novo mundo da 13ª surata,
vencendo assim a fera estranha como eclipse
que fala o capítulo 13 de Apocalipse.
Poema para a Poetisa
Flor do ipê do pé de Assaí posto
Epopéia nos idos raios de agosto
Ipê mesmo, mão de Deus, dedicatória
caindo angélico nos versos da história
Aproveitar a poesia pra proveta
Chapar de chá até rachar as borboletas
Salgar as rosas que estejam dessalgadas
E adoçar as solitárias calcinadas
E, com lirismo [embora seja um certo fardo],
fazer sorrir o mais revolto Leonardo
A chuva última haverá de ser primeira
que da Medusa apaga o fogo em cabeleira
e molha fértil e de forma tão precisa
a inspiração brotando à mão da poetisa
em Curitiba, pelos parques, pelas ruas
em Peabiru, de pó rubi, de estrelas cruas
para regar, banhar de luz a poesia
eternizar o que compor Bárbara Lia
sábado, 23 de agosto de 2008
Poema do Amor Imperativo
Toca-me!
Um toque sutil que for, um encontro de asas de beija-flor
Um sussurro leve ao ouvido, calafrio abributo atrevido
Um beijo-despertar dum sonho que instiga a sonhar.
Venha!
Neblina amiga das noites de sábado,
é teu beijo banhando meus lábios.
Como brisa que arranca dos montes a aurora,
tal e qual levas meu tudo embora.
Acorda-me!
Que já és a minha manhã, filha da noite, da madrugada irmã
És sonho, és desejo de abraço e de beijo
Que espero como engano sincero
Sinta-me!
Num misto de sentimento, meu coração ciumento.
Viver tua essência e o que eu não vejo: eis meu desejo
Mas os desejos de vez em quando tormam o fogo mais brando
E a brandura nos faz
cúmplices do jamais
Suba!
Sobre as asas da aventura
Onde os sonhos se tornam realidade
Onde não poderemos voar de verdade
Veja!
Confio a minha alma ao teu olhar sábio
A fim de que haja outro eu, um outro Fábio
Coragem!
Presenteia-me o sonho do mundo onde resides
E acompanha-me pela mão nos meus átimos tristes
Entre universos tão distantes
Entre dois mundos tão vizinhos
Aí está meu coração
Toma-o!
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Amar, Verbo Transitivo
Nasço amores
Chego amassos
Moro abraços
Chovo flores
Amanheço idades
Anoiteço brigas
Sorrio cantigas
Choro saudades
Converso festas
Fracasso juras
Morro loucuras
Viajo promessas
"Amo". E sem objeto [direto / indireto]?
"Amo". E sem complemento? Que tom mais cinzento!
"Amo". Sem-eira-nem-beira? Que besteira!
"Amo". E só? Tenha dó!
Que me perdoe Mário de Andrade
e Carlos Drummond me permita,
mas, se o amor não transita,
não é amor de verdade:
É parasita!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Sopro
domingo, 17 de agosto de 2008
Peabiruta
Eu peregrino
dia por dia,
longa romaria
Eu peregrino
no pó, no espinho
durante o caminho
Eu peregrino
aspirando outros ares
da terra-sem-males
Eu peregrino
piso a terra laranja
que meu pé desarranja
Eu peregrino
e se às vezes me exalto
não prefiro o asfalto
em rastros inteiros
de outros romeiros
Eu peregrino
Faço irmão o destino
e irmãs as estrelas
e mesmo sem vê-las
Peregrino
Foto da Peregrinação pelo Caminho do Peabiru, promovida pelo NECAPECAM [Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Caminho de Peabiru na Região de Campo Mourão-PR], no trecho entre Engenheiro Beltrão, Terra Boa, Peabiru e Araruna. Setenta quilômetros a pé e a pó.
sábado, 16 de agosto de 2008
Eclipse
Carneiro ao Vinho
Festa típica no Sul
Culinária que tem gosto
do meu chão, Peabiru
Gosto rude do Pinheiro
da Bica do Saltinho
da Maria-Fumaça
indiscreta no Trevinho
Da Mata do Eurico
ninho dos colibris
da trilha do índio
da majestosa Matriz
Tem gosto de procissão
pelas noites de Quaresma
Sabor bom de São João
da fogueira grande em festa
em 14 de Dezembro
tem um gosto brasileiro
e do resto que não lembro
Carne de ovelha
já temperada
Tomate e cebola
bem fatiada
Alho e salsinha
[pra dar um cheiro]
Se quiser, cebolinha
[ou outro tempero]
Batata picada
em cubos grosseiros
Óleo de oliva
[toque especial]
pimenta-do-reino
colheres de sal
Bem misturado
com muito carinho
E tudo regado
a dois litros vinho
Tampada a panela
é tacar fogo nela
depois de uma hora e pouca
e muita água na boca
e é só comê-lo então
com arroz e com pirão
Carneiro ao molho de vinho
Igual iguaria não há
Sabor delicado, aroma divino
Melhor gororoba do Paraná
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Ausência
Internet, celular, saudade
Ônibus, rua, passos
Mãos, beijos, abraços
Refri, olhar, vontade
Harmonia de covardia e bravura
Percorre meu teimoso pensamento
Que pronto me diz por alento:
Nossa história não foi só aventura
Em cada giro lento do ponteiro te penso
E desejo ter-te no aconchego do meu braço
Ouvir no teu seio o pulsar em descompasso
Sentir-te o cheiro qual aroma do incenso
Papel, lápis, movimento
Computador, delete
Café, música, tapete
Ausência, sentimento
Espera, espera, espera...
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Felicidade
Tempestade gaúcha
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Rua dos Bobos, № 0
Mas, assim como ela, todos os dias, muita gente boa vai embora desapercebida: o bombeiro que morreu queimado cujo salário mal dava pra pagar as despesas de casa; o jovem que fazia trabalhos voluntários na periferia; a freira que deixou o conforto da pátria materna e foi assassinada por defender a causa dos pobres; os torturados desaparecidos durante a ditadura militar... Gente de todos os tipos, de idades diversas, com sotaques e ideologias diferentes, que, quando vivos, não receberam nada além de portas na cara, risadinhas e comentários irônicos, indiferença, descrédito e ingratidão, muita ingratidão... quem sabe até ganharam meia-dúzia de elogios [clichês] fingidos e forçados, falas prontas repetidas trocentas vezes em cenas de novelas. E, depois de mortos, homenagens. Vãs. Vazias. Artificiais, com jeito de plástico made in China. E é sobre isso exatamente que tenho pensado nesses dias.
Que é dar a um conjunto habitacional o nome de um político honesto? [Sim, eles existem.] Nada! O que vale mesmo é vestir a camisa da honestidade e bater o pé quando esta faltar.
Os bão-da-boca sabem disso, minha gente. Ah, se sabem! Confiam devotamente, de olhos fechados, na passividade, na imbecilidade das massas; porque sua consciência, sua criticidade, eles soterraram no concreto do obelisco.
Muito pouco mesmo.
Tributo aos amigos
Meu coraçao peabiruta
Gratidão fertiliza
E obrigado tributa
Aos meus caros amigos
Que de forma precisa
Me abrandam perigos
E dividem comigo:
Piadas
Brinquedos
Problemas
Torpedos
Cachaça
Segredos
Suas preces
Seus medos
Aos amigos de berço
Aos amigos de acaso
Aos amigos de terço
Aos amigos de passo
Aos amigos à vista
Aos amigos a prazo
Aos amigos de trampo
Aos amigos de aço
Aos amigos grandes
Aos amigos pequenos
Aos amigos sinceros
E aos mais ou menos
E a quem do meu lado
Peregrina essa estrada
Um abraço apertado!
Uma Skol bem gelada!
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Rivestita di Sole
domingo, 10 de agosto de 2008
Chuva dominical
Nos domingos mais tristonhos
turbulentos de quietude
É a densidade dos meus sonhos
que me devolve a juventude.
Pai
De você, amo o silêncio
e não as palavras
Prefiro as não ditas, as caladas
omissas
De você, amo a prudência
dizer ponderado, vizinha distância
concisa
De você, amo o terço
e os joelhos constantes, dobrados
devotos
De você, amo os calos
nas mãos operárias, pedreiras
dignas
Amo-lhe ainda a instrução imperfeita
as letras trêmulas, vacilantes
breves
De você, amo o que os outros não amam
e tudo que não sei expressar além
do empecilho.
A rudeza que estes versos reclamam
dizem apenas que quero-lhe bem.
Teu filho.
Torre de Babel
Habitamos uma só tribo,
que circunda este planeta.
A fumaça dant'escribo
é que publica igual gazeta.
Construímos um edifício
em plena mata selvagem
e fazemos da linguagem
arco que dispara míssil
Nossa língua não se entende
nem entre os conterrâneos.
Pois o que há nos nossos crânios
já não é mais transparente.
E por mais que nós falemos
de modo igual este idioma,
nos fechamos em redoma
bem maior do que já temos.
Sino apaixonado
No esplendor da matriz
santuário divino
a cantiga do sino
a cidade bendiz
Sino, feito viola,
lá no alto da igreja,
em canção sertaneja,
minha terra namora.
Canta, bronze amigo,
tua paixão comovente,
que o peito da gente
te dá paga e abrigo.
Canta teu suave libido
pois um dia quem sabe
antes que a missa se acabe
sejas correspondido.
sábado, 9 de agosto de 2008
Algea, eleison!
cujo nome é coração.
Cheque pré-datado
Escrevo meu caminho à caneta
O que está feito, está feito
Não tem jeito
Uso lápis de vez em quando
Mas não que o medo me retenha
Se há perigo, pois que venha!
Que continuo rabiscando
Mas se eu rabisco em grafite
não uso nunca borracha
que zomba, esculacha
sem dó nem limite.
Assim faço meu destino
Sem rasuras de errorex
Pois a rubrica dos meus cheques
Sou eu mesmo que assino.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Papel de parede
Saudade feroz
de quando as paredes ouviam,
condenavam, proibiam
a nossa voz
Errávamos menos
quando as paredes tinham ouvidos.
Pois precavidos,
éramos plenos.
Hoje os ouvidos têm paredes.
Não é esquisito?
Pois nem meu grito
tu já não sentes.
Reclamo em vão...
Mas se há paredes
Pintemo-las verdes
pra ocultar solidão
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Parafina
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Château Lafite Rothschild no elevador
Se o que se fala dos extintos
fosse dito ainda em vida
com mesma lábia devida
e semelhante instinto
quem sabe nem morressem
os que cruzam labirintos
Pois palavra cura
Palavra é ânimo
Potência pura
Poder anônimo
E a vida é festa
completa e única
somos convivas
com mesma túnica
Somos garçons em black tie
com palavras na bandeja
Não servimos verbo que retrai
jamais, a quem quer que seja
É tão besta brindar
com palavra azeda
palavinagres
indigestas
e guardar os vinhos
que são milagres
pra outras festas
Não deixe na estante
taças donzelas
A hora de beber é agora
sem cautelas
sirva o melhor espumante
porque num instante
tudo evapora
Brindemos já, meu amor
que a vida é festa no elevador
que logo chega ao térreo
Não leve tão a sério
o mistério e o que for
Garçom, um copo de licor,
por favor,
de palavras, depressa!
É o que mais me interessa.
Rochas
O receio do novo
distancia estrelas
impede-nos vê-las
O medo da luz
condensa, reduz
homens em pedras
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Solzhenitsyn
Um breve Поезия para ele.
Quem faz da caneta
espada contra o mal
pela paz
se faz
lagarta
Descarta
o casulo
escuro
ressurge borboleta
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Anel de tucum
Em casa, diante novamente do meu teclado, e de anel preto no dedo, apaguei o texto. Ri. Ri sozinho.
domingo, 3 de agosto de 2008
Veneza
sábado, 2 de agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Ao Estudante Anônimo
quinta-feira, 31 de julho de 2008
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Poema para Frei Tito
e prosa
nas noites jovens
silenciosas
de Deus, dos homens
Sufocado
Ecoa o grito
calado
de Frei Tito
Paz...
Tito de Alencar
Tito Clandestino
Tito de Além-Mar
Paris...
Frei da viola
Frei que viola
A lei do freio
Foice...
Frei Bendito
Frei Maldito
Frei Tito
Marighela...
dominicano
bandido
procurado
do sol quadrado
do sol aflito
Santo profano
Santo contrito
avermelhado
São Domingos...
da utopia
Tito do sonho
da poesia
Tito aditado
todo ternura
Tito cansado
pela tortura
Tito marcado
pela saudade
Tito banido
pela história
Tito exilado
desigualdade
Sentenciado
pela memória
Brasil...
terça-feira, 29 de julho de 2008
segunda-feira, 28 de julho de 2008
domingo, 27 de julho de 2008
Superna notula
sábado, 26 de julho de 2008
Vento
mudar-me em sopro
vento
brisa branda
e jogar-me em vôo
solto!
Roubar pelas matas
errante
pétalas de açucena
e jogá-las em confete
no teu colo sutil
Tocar suave teu rosto
Soprar leve teus cachos
se cansada
sozinha
deitares à sombra do ipê-rocho
refrigério
e sentir-me no ar
dente-de-leão
Abranger teu corpo meigo
eu
vento apaixonado
Agitar teu vestido
sopro volúvel
caindo aragem
de teus seios aos quadris
fitar ligeiro teus olhos
frutos de castanheira
Contemplar teus dentes
alvo ramo de azaléias
Beijar tua alma
eu
brisa pungente
consagrar-me à tua carne moça
E em seguida
retornar
eu
livre
às mesmas matas
santuário
رقص شرقي
Ferve!
Balança!
Escuta!
Move!
Beija!
Vê!
Completa!
Salta!
Baila!
sexta-feira, 25 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Ave, Maria!
Em brisa leve ao fim do dia,
Se mescla à noite às seis da tarde
E chama os crentes à Ave-Maria...
É nessa hora, quando anoitece,
Ao cerrar do breu como cortina,
Que a Virgem ouve a cada prece
De quem no mundo peregrina.
Que no teu rogo, Senhora minha,
Se ache o nome deste vão poeta.
Que meus rabiscos, qual ladainha,
Louvem de Deus a mais dileta.
Ao som sagrado de Gounod
Ou na sanfona orante de Luiz Gonzaga,
Ofereço cantando o que sou
Àquela que as dores apaga.
O badalar rijo do sino
Também lhe canta amor sincero,
Como o fez Tomás de Aquino
E até Martim Lutero!
Sob luz tíbia e à caneta,
poetizo eu à minha maneira,
Pois nas areias, José de Anchieta
Já exaltava a Medianeira.
E não há mortal que enumere
Os poetas todos da Mãe-Donzela:
Raimundo Correia, Dante Alighieri,
Olavo Bilac, Fagundes Varela...
E até que eu tenha fôlego no peito,
Também terei a poesia,
Que mostre todo meu respeito
E meu amor à Mãe Maria.
Vésper desponta
E que a lua surja por detrás dos montes
E olhando a noite nascer sorridente
Procurarei a estrela mais reluzente
Cujo brilho as outras despreza
E pedirei baixinho, como quem reza:
"Ilumina, irmãzinha, os seus sonhos
e que os anjos lhe guardem, proponho
que esquente-lhe o coração, insisto
para que perceba enfim que eu existo
e que faça brotar-lhe um sorriso
cada vez que pensar em mim de improviso."
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Bem-Aventuranças
Bendito Seu José, que sai de casa às cinco da matina para cortar cana e só volta à noitinha.
Bendita Dona Penha, desbocada e sorridente, que faz faxina em cinco casas diferentes para sobreviver.
Bendita Dona Mirtes, que vive da venda de seus confeitos.
Bendita a velhinha japonesa budista que varre a minha rua inteira todos os dias com sorriso largo.
Bendito pastor Cido, líder de uma comunidade neopentecostal que, de bicicleta, vende verduras para sustentar seus três filhos.
Bendita Dona Isabel benzedeira, que dá esperança a quem vive aquém da saúde pública.
Bendito Louviral, filho da Dona Jandira, que à tinta desenha um mundo mais bonito.
Bendita Cíntia que, mesmo pobre, não aceita que a pobreza sirva de desculpa para quem se perde na vida.
Bendita Dona Elvira, professora aposentada, que mantém sozinha há mais de 50 anos uma escola numa propriedade rural.
Bendito J.I. que tenta de novo sair do mundo das drogas.
Bendito Arleto, que exalta minha terra com sua poesia.
Bendita Dona Nely, voluntária da Pastoral da Criança.
Bendito Seu Elói, o taxista, que faz corridas gratuitas pra vizinha anciã doente.
Bendita a filha da mãe que se matou, e que agora tem que cuidar sozinha da casa, dos irmãos e do futuro e, ainda assim, não blasfema.
Bendita Dona Joaquina, que reza o terço todos os dias intercedendo por todo mundo, sendo, mesmo analfabeta, a maior teóloga e pedagoga que conheço.
Bem-aventurada é minha gente, no seu peito aberto e nos seus pés vermelhos!
terça-feira, 22 de julho de 2008
Pseudopoema
castanho, prudente,
uma paz estridente
me vem perturbar.
E fogem meus versos
se você se aproxima
Mas que foda-se a rima!
Vá à merda o universo!
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Jornada da Juventude
Eu também estava lá para dar uma palestra sobre a realidade dos jovens na nossa região, que não é nada boa pelos motivos que já evidenciei aqui mesmo, anteriormente. Encontrei jovens de várias idades e de todos os tipos: carismáticos, pejoteiros, marianos, cursilhistas, vicentinos, seminaristas, católicos de rito ucraniano, luteranos e até ateus. Conversei com vários deles, escutei suas expectativas, seus receios, suas músicas, suas frustrações, suas piadas e até me diverti jogando sinuca e ping-pong de madrugada enquanto arranjavam um lugar pra eu dormir.
Todavia, entre eles, o que me chamou atenção foi um grupo de jovens paulistas que vestiam roupas vermelhas, vendiam bombons e se destacavam pelo sorriso espontâneo e fácil, membros de uma tal Missão Pelicano. Depois da minha fala no sábado de manhã, uma vermelhinha - que chamava todo mundo de "santo" [inclusive a mim!] - me ofereceu um bombom de castanha, comentou sobre o que eu acabara de falar, perguntou o significado de algumas palavras latinas e falou da sua vida, de como deixou a família no Estado de São Paulo para viver em comunidade, servindo os pobres, aqui no interior do Paraná. E isso tudo me deixou muito esperançoso.
Saí de Farol animado, com a esperança de que esses jovens serão faróis para a realidade escura que enfrentam hoje. Eu creio na força de mudança da juventude. E a eterna Helena Kolody também:
Força juventude!