Ontem, enquanto apagava uns malditos spams na minha caixa de entrada, vi que tinha recebido um e-mail do Arleto Rocha – grande poeta peabiruense – falando sobre meu blog. Depois da devida permissão, publico o seu texto, honrado e agradecido. Ei-lo:
Nessas bobeiras que a gente tem de ficar fazendo nada a frente de uma Internet que supostamente nos propicia fazer tudo (que embuste), ao Google na procura do não sei o que:
- “Peabiru”
Vinte e tantas paginas. Fiquei na primeira.
Acrescentar outra palavra, sair da rotina.
Na digitação de dois dedos (Professor Expedito que não veja isso nas aulas de datilografia) um sufixo involuntário:
- “Peabiruta”.
Primeira página. Nada.
Segunda: teu blog.
Muito legal a estética, longe da formalidade dos que vejo por aí. Nota 9,9. (Explico: pois como disse uma professora da faculdade “10 só para Deus”. Enchi a prova dela com citações bíblicas relacionadas com a disciplina agrária de seu magistério. Deu-me 10, às escondidas, chamou-me de anjo e pediu para nunca mais eu fazer isso: ciência e religião, um perigo). Às escondidas, 10 pelo teu blog.
Chamou-me a atenção sua crônica “Anel de Tucum”. Leitura fluente. Eu que dialogo com os cães (os meus e os da rua) e samambaias vi-me dirigindo o neo-realismo da cena. O Cão e o cara sob a noite.
Predestina-me também este teu talento de ouvir estranhos. Outro dia, sentado ao balcão de um boteco da rodoviária de Curitiba, esperando o ônibus as 13, sendo ainda 10, o sujeito me disse:
-Bebendo cerveja nesse frio!
Olhei, o cara sorriu, o outro, junto, em silêncio. Ventríloquo, falava por ele e por todos. Desandou a dizer que a mulher do amigo, esse aí em silêncio, tinha o largado, e agora voltava para uma reconciliação, lá em Faxinal, depois de Ortigueira, antes de Apucarana.
Da primeira até a segunda cerveja, a historia do amigo, na terceira a dele, até pedir minha opinião:
-Será que ela o aceita de volta?
O ônibus era as 11. Foi. Feliz por eu dizer que sim. Pagou-me as três cervejas, mesmo dizendo que a prefeitura de minha cidade arcaria com as Kaisers bebidas.
Pela porta, bolsa nas costas, o falante para o amigo feliz e sempre quieto:
-Num disse que você vai ter ela de volta.
Na cidade da Lapa, em um evento de premiação literária, tarde da noite no vento sulista descobri que não existia hotel aberto àquela hora. Minha bagagem dormindo no guarda volume da rodoviária fechada e eu pelo lado de fora com dez exemplares da antologia publicada. Deitei-me no banco de madeira dos taxistas:
-Vende livro?
Para evitar dizer que eu escrevia (um crime nesses dias de espíritos embrutecidos) disse que sim:
-Sim.
Encolhi os pés, ainda com a cabeça nos livros, feitos travesseiros. Depois me levantei de vez. Outro taxista sentou-se ao lado.
A vida inteira dos dois, uma tia-avó em Nova Cantu e a escalação completa do Coritiba e do Atlético.
-Torce pro Coxa ou pro Atlético?
-Grêmio de Maringá.
-Esses livros que vende é de quê?
-Poesia.
-Leia uma.
Escolhi a minha, e li sem dizer que era minha. Fizeram cara de desaprovação e de quem não entendeu nada. Voltaram a Tia-avó em Nova Cantu e ao futebol curitibano.
Café, pão e os livros.
Conversas estranhas com conhecidos também não é novidade, talvez, como você disse, por essa nossa vocação de ouvidos mais que boca:
-Faço tudo e nada está bem, num dá mais pra continuar assim, o jeito é terminar mesmo...Nunca, nunca mais quero vê-la.
Dois dias depois, juntos.
Mas essa coisa alem do entendimento pode ser fruto dos dias. Culpa nossa, pois pela tecnologia conversamos com gente que nunca conhecemos, pelos orkuts e MSNs da vida, sem falar no celular que virou extensão da mão humana, um órgão do corpo, muito embora crio um espanto a todos quando digo que não tenho e não gosto. Um apêndice sem função para mim.
Teclando o Google, para bisbilhotar todos e ninguém.
Tempos birutas.
Peabiruta.
[Arleto Rocha]
Nenhum comentário:
Postar um comentário