segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

domingo, 20 de setembro de 2009

Agradecimento


A realidade de Peabiru não é das melhores. Todavia, a situação já foi bem pior antes da chegada dos padres italianos da Sagrada Família de Bérgamo. Com um trabalho sério, dinâmico e comprometido, eles mantêm há duas décadas trabalhos sociais relevantes, como a Escola São José – onde tenho o privilégio de trabalhar – que oferece uma educação de qualidade a mais 350 crianças em período integral; a Casa Lar do Menor Carlinhos, que acolhe menores em situação de risco social; e o projeto Criança São José, por meio do qual os religiosos assistem a centenas de famílias carentes do município.

No vídeo a seguir, produzido em 1997, fica evidente as razões pelas quais Peabiru deve agradecer, e muito, aos padres italianos.



À Congregação da Sagrada Família, meu agradecimento pessoal e sincero.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Trova Mariana


Rabiscar trovas de amor
em tua honra, ó Maria
É para o teu trovador
a mais pura alegria...

sábado, 22 de agosto de 2009

Professor da Fecilcam receberá prêmio

O professor Fábio Sexugi, da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam) vai receber o Troféu Fábio de Carvalho Noronha, uma premiação que é oferecida há 17 anos às melhores crônicas do Concurso Nacional de Poesia, Conto e Crônica da Academia de Letras de São João da Boa Vista - SP.

Com o texto “É hora de dar uma espiadinha!”, sobre reality shows, obteve o primeiro lugar. A cerimônia de premiação acontecerá no auditório da UNIFAE.

O interessante é que São João da Boa vista é vizinha de Limeira, onde, no começo do mês, Sexugi, ficou em segundo lugar no no XII Prêmio Cidadão de Poesia.

Além destes dois prêmios, recebeu outros sete no Brasil, em Portugal, no Uruguai e na Itália.

São eles:
Primeiro lugar no I Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio, promovido pelo Projeto Poesia Pública de Belo Horizonte, em outubro de 2008;

Primeiro lugar no IV Concurso Internacional de Poesía Latinoamericana, categoria espiritualidade, em fevereiro de 2009;

Terceiro lugar no XXIII Concurso Literário Internacional das Edições AG, março de 2009;

Primeiro lugar na categoria poesia e melhor composição literária no III Prêmio Primaverart de Lecce (Itália), em abril de 2009;

Primeiro lugar no Prêmio Letras da Primavera de Anadia (Portugal), em abril de 2009;

Menção Honrosa no X Prêmio de Poesia "Eduardo", de Trentola Ducenta (Itália) em maio de 2009;

Menção Honrosa no IX Concurso de Poesias CNEC/FACECAP de Capivari - SP, em junho de 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

XII Prêmio Cidadão de Poesia


Saiu o resultado do XII Prêmio Cidadão de Poesia, um certame literário que tem por objetivo revelar os novos talentos da lírica em língua portuguesa. Acabei ficando com a 2ª colocação: algo que realmente me deixa satisfeito.

Segue o resultado completo:

Premiados
Primeiro Lugar: Flávia Perez (Campinas/SP)
Segundo Lugar: Fábio Alexandro Sexugi (Peabiru /PR)
Terceiro Lugar: José Carlos da Silva (Mauá/SP)

Menções Honrosas
Alessandra Pires Bertazzo (Curitiba-PR)
Ângelo Pessoa Martins (Cordeiro/RJ)
Carlos Alberto Barros (São Paulo/SP)
Carmen M. da Silva Fernandez Pilotto (Piracicaba/SP)
Fabrício de Queiroz Venâncio (Salvador/BA)
Mariana Ohlweiler (Ivoti/RS)
Sérgio Bernardo (Nova Friburgo-RJ)

A cerimônia de premiação acontecerá no Clube dos Comerciários (entidade que promove o concurso), no no Jardim Limeirânea, em Limeira/SP, no próximo dia 25. A iniciativa do poeta Otacílio Cesar Monteiro, organizador do prêmio, deve ser reconhecida e imitada.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Letras da Primavera


Recebi hoje de manhã, pelo correio, um ofício emitido pelo Prof. Litério Augusto Marques, que é Prefeito (presidente da câmara) de Anadia, cidade portuguesa fundada na época do descobrimento do Brasil, me felicitando pela vitória no concurso literário "Letras da Primavera".

A cerimônia de premiação aconteceu no dia 09 de maio, Dia Mundial da Poesia, na Biblioteca da cidade. Na ocasião, foram lidos o meu poema (vencedor na categoria "Público em geral") e minha mensagem de agradecimento.

No meu discurso, enviado por e-mail aos organizadores do certame, dediquei o prêmio ao poeta anadiense Manuel Alves, um repentista analfabeto, morto no começo do século passado. Sua poesia foi compilada por Tomás da Fonseca. Em Anadia, em homenagem ao poeta, foram dedicados uma rua e um monumento. É dele o poema que segue:

Morri, já não sou poeta,
de escrever cansou a mão!
Os versos que tenho feito
por eles sinto paixão.

Se a poesia tem acções
Que ofendem tanta pessoa,
Porque é que a nobre Lisboa
Festeja o grande Camões?
Mesmo as divinas canções
Vêm do céu por linha recta...
Mas visto que a mão secreta
Constantemente ameaça,
Chegou a minha desgraça:
MORRI, JA NÃO SOU POETA!

Meus versos estão cansados,
Visto que para eles morri...
Estes que eu canto hoje aqui
Fui pedi-los emprestados.
Os meus foram protestados
Por uma infame mão,
Que jurou tentar acção,
Fazer guerra à poesia...
Mesmo quem m'os escrevia
DE ESCREVER CANSOU A MÃO!

Os pastores da Galileia,
Junto à lapa de Belém,
Cantaram versos também
Ao Cristo, rei da Judeia...
Mas hoje a moderna ideia
Ao verso chama defeito!
Consta que um certo sujeito
Mandou já pôr editais
Para eu não cantar mais
OS VERSOS QUE TENHO FEITO!

O grande João de Deus,
Esse poeta moderno,
Por versos mostrou o inferno,
Por versos falou dos céus!...
Porque é que aos versos meus
Se proíbe a execução,
Quando muitas vezes vão
Cingir a honra entre a palma!?
Ai, versos da minha alma,
POR ELES SINTO PAIXÃO!








Obrigado, Anadia!
Obrigado, Portugal!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Germinando


A edição de № 29 da Revista Germina, uma das mais conceituadas publicações sobre arte e literatura do Brasil, dedica um espaço do suplemento literário para a publicação de versos meus em português e italianos.

Além de mim, também estão os escritores: Bruno Prado, Camilo Lara, Carlos Perktold, Casé Lontra Marques, César Cardoso, Demétrio Panarotto, Eder Fogaça, Eduardo Baszczyn, Emerson Pereti, Felipe Stefani, Fernando Koproski, Jairo Faria Mendes, Juracy Ribeiro, Jurema Barreto de Souza, Leonardo Marona, Maíra Matthes, Marcelo Rocha, Mima Carfer, Nilze Costa e Silva, Ordisi Raluz, Roberto Denser, Sarah Forte, Saulo Marzochi, Tião Martins e Valquíria Rabelo.

Um beijo à Silvana Guimarães, coeditora e designer da revista, que enxergou algo de comestível nos meus rabiscos.

Cliquem na imagem acima, ou acessem o link www.germinaliteratura.com.br/2009/fabio_sexugi.htm e comentem, por favor!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ciao, bella Italia!


O blog completou um ano quando voltei da Itália, trazendo na mala o troféu da crítica para a Literatura do Prêmio Primaverart de Lecce, no extremo sul da Itália, conhecida legitimamente como a Cidade das Artes.


O prêmio, conforme já publicado anteriormente, é uma iniciativa conjunta da administração pública leccese e da Universidade de Salento, que pretende estimular e valorizar novos talentos no cinema (curtas, vídeo-clips e spots), na música (piano, violino e canto), na literatura (poesia em italiano, em dialeto e conto) e nas artes plásticas (pintura e escultura), promovendo mostras itinerantes nos lugares mais sugestivos da antiquíssima cidade (colonizada pelos gregos na época da Guerra de Troia!). Neste concurso recebi dois prêmios: fui o vencedor da categoria “poesia em italiano”, além de ser agraciado com o premio da crítica para a literatura, pela melhor composição de todas as demais subcategorias literárias do certame.

A cerimônia de premiação aconteceu no majestoso palácio do governo e foi presidida pela presidente da 3ª Circunscrição, Mariangela De Carlo, contando com a presença de autoridades locais e regionais, da imprensa e de convidados. Recebi o troféu das mãos do prefeito da cidade, que disse ser importantíssimo receber um prêmio literário dessa magnitude, e mais ainda quando não se é falante nativo da língua, como é o meu caso.

Transcrevo, na sequência, o meu discurso, proferido originalmente em italiano:

“Enquanto saúdo os presentes, desejo expressar minha enorme alegria por estar aqui emLecce, recebendo a premiação desse importantíssimo concurso artístico, o Prêmio Primaverart, que reuniu, como os senhores sabem, obras de diversos artistas, não somente italianos.

Para mim, que sou brasileiro de origem e de coração, mas também amante da língua dantesca, este prêmio tem um significado muito especial: conforme os senhores mesmos aludiram enfaticamente, sou o primeiro poeta estrangeiro a vencer um concurso literário na Itália com líricas em italiano. Para mim, além disso, é quase inacreditável que minha poesia, que canta geralmente as coisas simples da vida cotidiana, seja reconhecida aqui na Itália, em Lecce, Cidade da Arte.

Permaneci aqui esta semana e pude ver, em cada giro no imponente e belíssimo centro histórico, que o amor pela arte é sem dúvidas uma das principais características dessa cultura há milhares de anos. Portanto, ser premiado nesta terra de cultura milenar causa-me uma sensação inexplicável.

Não posso, portanto, deixar de agradecer a Deus, a minha família, aos colegas, amigos, alunos e leitores. Um agradecimento de coração à Srª Mariangela De Carlo, presidente da 3ª Circunscrição de Lecce, pelo apoio e pela atenção durante minha estada na Puglia.

Assim diz Camilo Castelo Branco, grande nome da literatura portuguesa: ‘A poesia não tem presente: ou é esperança, ou é saudade’. Assim, espero verdadeiramente que a poesia estimulada pelos senhores possa recordar sempre ao povo leccese o seu glorioso passado, com nostalgia, com ‘saudade’, e o leve a escrever, em belos versos, o próprio futuro.

Muito obrigado a Lecce, terra que levarei comigo dentro do coração com muitas saudades.”

Após a cerimônia, segui para a Universidade de Salento, para uma conversa com os alunos de Letras sobre Literatura Brasiliera e sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Certamente, foi um dos momentos mais importantes e emocionantes da minha vida. Espero que essas premiações motivem a tantos outros, peabirutas ou não, para que também sintam essa ânsia de escrever, de produzir.

Rabiscar, para mim, é uma necessidade, quase física.

Eu vou continuar escrevendo. Conituem lendo meus rabiscos, por favor!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um prêmio português, ora pois!


Meu 7º prêmio literário vem da terra de Camões. O poema Balada do Poeta Biruta arrebatou a primeira colocação no Prémio Letras da Primavera, promovido pelo Município de Anadia, na região central de Portugal. As obras inscritas ficaram expostas na biblioteca municipal da cidade, de 23 de março a 24 de abril, e submetidas à votação pelos visitantes.



O resultado foi divulgado no último sábado, dia 2 de maio.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Ainda da série "Meus Versos na Europa"


Nem bem me recuperei do susto de receber dois prêmios importantes na Itália, numa mesma semana, fiquei sabendo agora que também fui selecionado para integrar a Antologia "Parole e Poesia" da Casa Editora Il Fiorino, da cidade de Módena (região da Emília-Romanha).

Voglio innanzitutto congratularmi per la bella poesia NASCONDIGLIO. Più la leggo e più mi trasmette emozioni belle. Ti comunico che le tue poesie sono state selezionate dalla Giuria per essere pubblicate nel 1° volume 2009 dell’ANTOLOGIA DEL PREMIO “PAROLE E POESIA”. Il volume, edito dalla Casa Editrice IL FIORINO di Modena, verrà stampato in mille copie,  distribuito in alcune librerie d’Italia, nelle Biblioteche Estense di Modena, Nazionale di Firenze, Roma, Catanzaro, Formigine, Maranello e pubblicizzato su alcuni siti internet.
Un cordiale saluto.
il Presidente del Premio
Antonio Maglio

Quero antes de tudo parabenizá-lo pelo belo poema NASCONDIGLIO. Quanto mais o leio, mais me transmite belas emoções. Te comunico que as tuas poesias foram selecionadas pelo júri para serem publicadas no 1º volume 2009 da Antologia do Prêmio “PAROLE E POESIA”. O volume, editado pela Casa Editora IL FIORINO de Módena, será publicado em mil cópias, distribuído em algumas bibliotecas da Itália, nas Bibliotecas Estensas de Módena, na Nacional de Florença, de Roma, de Catanzaro, de Maranello e publicizado em alguns sites da internet.
Cordiais saudações.
Presidente do Prêmio
Antonio Maglio

Che Pasqua incancellabile!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

1º lugar na Itália!!


Melhor Sexta-Feira Santa impossível: fui comunicado hoje pela Presidente da Terceira Cincunscrição da cidade de Lecce, no sul da Itália, que recebi a primeira colocação no Prêmio Primaverart, promovido pelo Assessorato alla Cultura, Università del Salento e pela Associazione culturale "Accademia Salentina Delle Lettere", na categoria Literatura, nestes termos:

Gent.mo Sig. Sexugi,

Ho il grande piacere di informarLa che la Commissione giudicatrice della Sezione Poesia ha conferito alla Sua Poesia "Tazzina" il Premio della Critica per la Letteratura.Comprendendo bene che non Le sarà semplice venire a ritirare il Premiopersonalmente in occasione del Gran Galà del 19 aprile, La invito a venirea ritirare il Premio quando Le sarà possibile offrendo a Lei, o ad un Suo delegato, la ns. ospitalità attraverso il ns. partner "Gruppo Vestas Hotel". Resta inteso che se non Le sarà comunque possibile recarsi in Italia per visitare la ns. terra e ritirare il Premio, sarà ns. cura farglielo recapitare secondo quanto vorrà disporre. A nome mio personale e di tutta la Città di Lecce Le formulo le più vive congratulazioni per questo e tutti gli altri successi che certamente avrà già avuto e avrà in futuro! 

Il Presidente della Terza Circoscrizione
Mariangela De Carlo

Prezado Sr Sexugi,

Tenho o grande prazer de informar-lhe que a Comissão Julgadora da Seção Poesia conferiu ao seu poema “Tazzina” o Prêmio da Crítica para a Literatura. Compreendendo bem que não lhe será simples vir retirar o prêmio pessoalmente por ocasião da Cerimônia de Gala de abril, convido-lhe a vir retirá-lo quando lhe for possível oferecendo ao senhor, ou a seu representante, a nossa hospitalidade por meio do nosso colaborador “Grupo Vestas Hotel”. Fica acordado que, se ainda assim não lhe for possível vir à Itália para visitar as nossas terras e retirar o prêmio, nós o entregaremos segundo quanto quiser dispor. Em meu nome e de toda a cidade de Lecce, formulo-lhe as mais vivas congratulações por este e todos os outros sucessos que certamente já teve e terá no futuro!

Presidente da Terceira Cincurscrição
Mariangela De Carlo



Além dos poetas, o Prêmio Primaverart contemplou outros artistas contemporâneos da Itália nas artes plásticas (pintura e escultura), no cinema e na música.

Esta é uma daquelas vitórias inesquecíveis. Afinal, vencer um concurso literário num país onde se respira arte desde o berço é algo que merece permanecer na memória. O júri, composto por Lucio Giannone, Vito Antonio Conte, Luca Pensa, Teresa Romano, Davide Stasi, foi quem decidiu o resultado, que estará em breve disponível no site http://www.concorsiletterari.it/risultati.  

Se a poesia quer levar meu barquinho a mares tão longínquos, pois que seja. 

 Cameriere, un bicchier di vino. Devo festeggiare!


domingo, 5 de abril de 2009

Fui premiado no Lácio!


Na manhã deste sábado, recebi uma agradável surpresa: fui um dos poetas selecionados para integrar a Antologia Comemorativa dos 40 anos do Prêmio Literário Julia de Gonzaga – musa dos poetas da Renascença italiana –. Trata-se duma antologia bilíngüe (italiano/espanhol) promovida pelo Castello di Fondi (da região do Lácio, província de Latina na Itália).

Os poetas foram escolhidos pelo conjunto da obra (10 poesias), e terão três poemas inseridos no livro. Além da publicação, cada poeta selecionado receberá uma medalha de prata e outros prêmios oferecidos por entidades públicas e privadas. Estou ansioso pela publicação.


Ser premiado por composições em outro idioma – no meu caso, em italiano – me deixa satisfeito e muito emocionado, sobretudo pela simbologia que o Lácio tem em relação ao latim, ao italiano e à própria língua portuguesa. Como professor dessas línguas, fico particularmente honrado. Eu me sinto um cara de sorte: dividir um mesmo livro com o grande poeta italiano Luigi Muccitelli e com outros nomes da poesia contemporânea é surreal.
Agradeço a todos os que acompanham meu trabalho!

Boa Páscoa!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Embalagem


— Farra com dinheiro público no Senado Federal! — Sem que o apresentador do jornal concluísse a notícia que mostrava mais um escândalo em Brasília, dessa vez por conta do excesso de diretores, desliguei a TV e fui para o quarto. Mas não pense que eu estivesse ficado revoltado com a reportagem: é que corrupção política já virou assunto tão corriqueiro e recorrente, que uma matéria sobre o jardim da Casa Branca chamaria mais minha atenção. Foi por mera falta de interesse mesmo, até porque já tinha ouvido sobre isso havia pouco, pela CBN, voltando do trabalho.

Fui me deitar. O sono não veio. De Internet não estava a fim.  Decidi, então, fazer uma limpa no armário, quando encontrei, guardado num livro didático, uma embalagem de Sonho de Valsa, que me reportou a um dezembro passado:

Eu já tinha retirado os cartazes das paredes. Deixei apenas o mapa do Brasil no fundo, já desbotado, a pedido da professora que usaria a sala no próximo ano. A sala já estava seminua. Era a última semana que eu passava com minha turma, uma quarta série. Foi uma semana meio nostálgica, afinal, eu já estava com aquela classe desde o ano anterior, e em período integral. Já tinha me afeiçoado com cada aluno, mesmo os mais indisciplinados, e conhecia um pouco de cada um deles: qualidades, manhas, carências. Alguns, com histórias de vida muito tristes, como a de uma menina cuja mãe cometera suicídio, ou a de um garoto que presenciava agressões físicas do pai contra a mãe, ou ainda a de um outro que precisou ser entregue aos cuidados de um orfanato, mesmo não sendo órfão. Situações que fizeram com que eu perdesse rápido a inexperiência como docente de Ensino Fundamental.

A sala era mais ou menos assim: lembro que na fila da direita, perto da porta, sentavam-se três meninas crentes, dessas igrejas que não permitem que as mulheres usem calças nem cortem o cabelo. Eram excelentes alunas, caprichosas, mas que não participavam de atividades culturais, porque seus pais estavam convencidos de que cantar ou dançar fosse coisa do Diabo. Atrás delas, sentava-se um piá negrinho que, de anjo, só tinha o nome. Contava piadas como ninguém: um sarrista nato, que me fez gargalhar várias vezes durante a aula. E, ao lado dele, ficava um guri preguiçoso que escondia o lápis pra ter a desculpa do porquê  não fazia as tarefas. A sua fila era composta só por primos, unidos em tudo: só brincavam e brigavam entre si. Ficava na terceira fileira um piá de olhos grandes que punha o fervo na turma. E lá no final da sala, na última fileira, perto da janela, estava a Ritinha, uma menina calada, magricela, despenteada, voz baixa. Sua mãe é doméstica e o pai, que trabalhava no corte de cana, tinha falecido havia pouco tempo. Toda semana ela vinha me contar alguma coisa, mas em sentenças curtas, pontuais.

Enquanto eu corrigia o caderno de um aluno na minha mesa, vi que a Rita aguardava de pé sua vez de falar comigo, segurando dois bombons. Após o último visto, perguntei o que queria. Antes de falar, mordendo os beiços com cara de contentamento, depositou um bombom sobre meu livro de chamada, bem devagarinho. Sua mão, encardidinha, com esmalte pink descascado, mais parecia estar colocando uma pepita de ouro, tal era a solenidade que demonstrava (o chocolate valia mesmo ouro). Por fim, me disse:

— Psor, a mãe vendeu um berço velho que tinha lá em casa e até fez compra ontem. Daí ela deu um real pra mim e pra minha irmã. Ela guardou o dinheiro. E eu comprei dois bombom. Esse aí é pro senhor.

O chocolate daquela menina pobre era um agradecimento. E, enquanto ela voltava correndo para o seu lugar, alternando suas perninhas finas – dois palitos – eu me segurei pra não chorar.

Obrigado, Ritinha! Seu bombom teve muito valor. Para mim, ele eles compensam as notícias diárias de corrupção e violência. Ele me diz que o Brasil vai ser melhor daqui uns tempos.


quinta-feira, 19 de março de 2009

O bom poeta não lê poesias


O texto a seguir tirei-o um de e-mail que que recebi do poeta peabiruense Arleto, a quem agradeço de coração pela generosidade.

Fala, Fabio!

Parabéns pelas conquistas. Daqui a pouco o Pulitzer.

Orgulha-me ver o nome de nossa pequena cidade como uma lépida intrusa nestes ares longínquos. Em breve, quando distante desta terra vermelha, o fim daquela eterna pergunta:

― De onde?

― Peabiru!

― Como?

― “P-e-a-b-i-r-u!”

(Sim, bairrista, sempre).

Por  Mário Quintana, “o bom poeta não lê poesias, lê anúncios de jornais”. É o que vejo em tua obra: a vida, o tropeção na calçada, o portão batendo no batente, o leiteiro buzinando, a fé indo e voltando, enfim, a existência dos dias sucessivos.

Mas chega dessa epistemologia de boteco, antes que seu PC tome isto como uma mensagem virótica e acabe me deletando.

Parabéns. E que sua bússola sempre aponte para o sucesso.

Arléto

quarta-feira, 18 de março de 2009

É hora de dar uma espiadinha!


O Big Brother cresceu. O Grande Irmão, personagem fictício do romance "Mil Novecentos e Oitenta e Quatro" ("Nineteen Eighty-Four"), concebido pelo britânico Eric Arthur Blair em 1948 e gerado pelo público brasileiro desde 2002, conseguiu entranhar-se no nosso imaginário, onde ganhou forma e morada, adaptando-se perfeitamente à nossa realidade tupiniquim, inculturando-se por aqui no tempo e no espaço. O cenário, portanto, não é mais a Oceania, e 1984 ficou para trás. Nestes tempos de New Age, não são mais as câmeras quem nos fiscalizam (embora elas estejam por aí, como redutores de velocidade ou inibidores de furto em estabelecimentos comerciais); na Era de Aquário, as sardinhas se aprisionam, por vontade, em aquários-casas de vidro e, lá de dentro, tentam agitar as águas ao redor, confirmando, assim, a ideia de Jean-Paul Sartre (cantada pelos Titãs) de que "o inferno são os outros". Ou seja, graças ao foco que se dá a qualquer indivíduo, graças aos holofotes projetando luzes ofuscantes sobre sua vida particular e mera, escancarada às espiadinhas do mundo, arreganhada aos olhares dos outros, "do inferno", à pauta incansável de programas (fúteis?) de fofoca, é que se cria uma novela superatrativa, mais interessante que Pantanal ou Caminho das Índias, escrita e encenada simultaneamente, com capítulos que duram o dia inteirinho!

E esse confinamento zoológico-humano dirigido nos reality shows mete-se de mansinho nos nossos relacionamentos sociais. É por causa dessa clausura assistida que acabamos tendo a impressão de que somos continuamente espiados, mesmo quando não exista alma viva por perto. Só que essa sensação não nos é incômoda: as câmeras imaginárias nos dão a possibilidade de nos tornarmos, qualquer um de nós, astros famosos, celebridades importantes.

Lembra-se de Gandhi, ou de Che Guevara, de Martin Luther King, de Madre Teresa ou ainda outros tantos que inspiraram as multidões? Pois bem, eles tinham características firmes, marcantes, e de tal modo definidas que os fazia únicos, arrebatadores: mais que de desejo, pontos de referência. Até bem pouco tempo atrás, sabíamos que o Milton era o Milton Nascimento, um cantor excepcional, compositor único e que, por isso, devia ser devidamente prestigiado, valorizado. Agora o tom é outro: a revolução da informação e da tecnologia fez com que aquelas personalidades, semideuses, fossem derrubadas à baixeza da simplicidade de pessoas anonimamente comuns, retirando daqueles o privilégio da intocabilidade e dando a estes a chance do estrelato, de serem alvos da idolatria. Vem daí a explosão de livros biográficos: hoje é possível saber detalhes íntimos tanto da vida de Bruna Surfistinha, quanto de Edir Macedo (numa das biografias mais lidas no país no ano passado!); daí também a popularidade dos blogs (espaço virtual onde muitos de seus autores fazem questão de divulgar desde o que comeram no almoço, aos motivos do término do namoro na última balada).

Elis que me desculpe, mas nossos ídolos já não são os mesmos: agora os deuses são mortais, e os mortais sobem à honra dos altares. Tornam-se ídolos, já não mais pelo que fazem, mas pelo jeito como se comportam: de 12 brothers, elege-se apenas aquele cujo estereótipo mais agrada ao grande público. O que eles fazem não vale nada. O que importa é como eles vivem na "nave-mãe": sua maneira de comer, falar, beber, beijar, tomar banho, dançar, brigar e peidar.

Enquanto isso, nós também nos confinamos. Continuamos sendo espiados por uma câmera interna, assistida por um expectador imaginário, externo. De vez em quando, tememos que ele nos mande para o paredão, ou que, na pior das hipóteses, nos elimine.

Não é estranho? Porque, no fundo, o Big Brother é um Big Self. E, caso assinasse o pay-per-view, Sartre atualizaria sua afirmação: "o inferno somos nós mesmos". Não sei se o Milton Nascimento assiste ao BBB, mas deve estar cantando com entusiasmado "Eu, Caçador de Mim".

Milton Nascimento - Caçador de Mim


sábado, 7 de março de 2009

O leiteiro


Revirando a esmo papéis amarelados [não sei porque faço isso de vez em quando], encontrei, ainda incompleto, um conto que comecei a escrever no ano 2000. Nem me lembrava mais dele. Decidi re-escrevê-lo [com hífen mesmo, já que, agora, separa-se o prefixo do segundo termo quando vogais iguais se encontram].

A trama é minha. Mas o cenário, escuro e empolgante, roubei de um poema fantástico do Drummond. Assim, enquanto a prosa não fica definitivamente pronta, posto o tal poema, que é o meu preferido.

A morte do leiteiro

Há pouco leite no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há muita sede no país,
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda,
que ladrão se mata com tiro.
Então o moço que é leiteiro
de madrugada com sua lata
sai correndo e distribuindo
leite bom para gente ruim.
Sua lata, suas garrafas
e seus sapatos de borracha
vão dizendo aos homens no sono
que alguém acordou cedinho
e veio do último subúrbio
trazer o leite mais frio
e mais alvo da melhor vaca
para todos criarem força
na luta brava da cidade.

Na mão a garrafa branca
não tem tempo de dizer
as coisas que lhe atribuo
nem o moço leiteiro ignaro,
morados na Rua Namur,
empregado no entreposto,
com 21 anos de idade,
sabe lá o que seja impulso
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria.

E como a porta dos fundos
também escondesse gente
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo,
avancemos por esse beco,
peguemos o corredor,
depositemos o litro...
Sem fazer barulho, é claro,
que barulho nada resolve.

Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
sempre se faz: passo errado,
vaso de flor no caminho,
cão latindo por princípio,
ou um gato quizilento.
E há sempre um senhor que acorda,
resmunga e torna a dormir.

Mas este acordou em pânico
(ladrões infestam o bairro),
não quis saber de mais nada.
O revólver da gaveta
saltou para sua mão.
Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
se era alegre, se era bom,
não sei,
é tarde para saber.

Mas o homem perdeu o sono
de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Bala que mata gatuno
também serve pra furtar
a vida de nosso irmão.
Quem quiser que chame médico,
polícia não bota a mão
neste filho de meu pai.
Está salva a propriedade.
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.



segunda-feira, 2 de março de 2009

Mais um!


Fiquei com a 3ª colocação no 27º Concurso Internacional Literário das Edições A.G., cujo resultado foi divulgado na tarde de ontem. Nas primeiras colocações, estão poetisas portuguesas. Esta será minha segunda participação em antologias este ano. Tomara que não sejam as únicas!

O poema premiado, Bússola, está nas postagens abaixo.


sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mosaico


Anoiteceu
Ao claror tíbio dessa lua
escondida, semibreu
teu gelo mudou-me
de mar em gotas
de piso em tacos
de trilha em trechos
de obra em cacos

Teu inverno me pariu penhascos
precipícios cinzentos
ruínas e escórias
que engolem minhas peças
devorando-me as memórias

Tua noite abriu em mim buracos negros
que apagam meu senso traído
fragmentos de saudades
que jamais terei sentido

Fico incompleto

E embora fracionado
reduzido, inacabado
hei de manter o teu afeto
entre os retalhos do meu peito
até que o teu fulgor não cesse
ao meu coração tão imperfeito

Mas amanhece

Manhã moça de verão:
É hora de recolher meus pedaços pelo chão.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Uma vela e outro prêmio


Recebi meu segundo prêmio literário. O primeiro foi há quatro meses, oferecido pelo Projeto Poesia Pública, de Belo Horizonte. Agora foi a vez do poema "Parafina", sobre a volubilidade da fé, ser contemplado com a primeira colocação entre as poesias religiosas do IV Concurso Internacional de Poesia Latino-Americana, promivido pelo Projeto "Poemía" de Las Piedras, no Uruguai, que reuniu poetas de várias partes do continente.

Eis o poema e, logo após, a relação dos poetas premiados:


Parafina
De vez em quando
minha fé resmunga
reclamando

Inconstância súbita
me questiona
me põe em dúvida
me indaga

Mas meu pavio
não se apaga
segue aceso
e embora ileso
em chaga

IV Concurso Internacional de Poesía Latinoamericana Projecto Poemía (Las Piedras - Canelones)
RESULTADO


Con el objetivo de impulsar un género tan importante como es la poesía y, al mismo tiempo, dejar constancia de la literatura que se escribe ahora, al margen o bebiendo de tendencias, gustos y estilos de todas las partes de nuestro grandioso continente, hemos convocado el IV Premio Internacional de Poesía Latinoamericana.

Aquí están los vencedores:

Categoría “Amor a la patria”
1º Lugar - “Toda la Patria” - Pedro Antonio de Porres – Santiago de Chile (Chile)
2º Lugar - “Tu voz y tu sonrisa” - Martín Augusto Fuentes – Rosario (Argentina)
3º Lugar - “La piel de la playa” - Angélica María Gándara – Cartagena (Colombia)

Categoría “Espiritualidad”
1º Lugar - “Parafina” - Fabio Alejandro Sexugi – Peabiru (Brasil)
2º Lugar - “Trabajos de Dios” - Teresa Delejos Fuentes – Mérida (México)
3º Lugar - “Encuentros” - Paulo Zapalla – Pachuca (México)

Categoría “Paz”
1º Lugar - “Un bonito rincón de paz” - María de Olivera Morales – Las Piedras (Uruguay)
2º Lugar - “Con los ojos” - Carlos David Cruz – Montevideo (Uruguay)
3º Lugar - “Bandera blanca” - Charlene Durán – Asunción (Paraguay)

Categoría “Lucha”
1º Lugar - “El Che que vira” - Alexander Coruña – La Paz (Bolivia)
2º Lugar - “El Mito del la Sangre” - André Juan Plata – Punta del Este (Uruguay)
3º Lugar - “Fuerza!” - Enrique Pazos - Ciudad de La Plata (Argentina)

Con los poemas ganadores se hará una publicación en libro con el título de "La Nova Poesía de Latinoamérica", que incluirá los premiados y algunos de los textos seleccionados entre todos los participantes, orden alfabético por el nombre del autor. Es motivo de inmensa alegría poder darle las gracias a los vencedores e a todos los participantes.

Dedico esse prêmio aos meus leitores e a todos que não deixam a vela se apagar!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Juventude inquieta



Tenho medo de poucas coisas. Mas, a que mais me incomoda é a ameaça da velhice. Não pela idade em si, já que ainda nem cheguei à casa dos 30, nem pelo alvorecer dos primeiros fios brancos ou das entradas no cabelo, mas pela possibilidade de perder, com "a casca inútil das horas", a minha inquietude interior. Não quero perder aquilo que mais admiro na juventude: a inquietação. E fico incomodado comigo mesmo quando, em flashes no pensamento, me pego conformado com coisas que antes me aborreciam.

A juventude é inquieta. E é somente a inquietação da juventude que nasce aquilo que é belo, que é bom; e nunca dos que deixaram-se embolorar pelo mofo da comodidade, do conformismo. Só os jovens podem mudar o mundo. Mas apenas os jovens que sabem nutrir e direcionar a própria inquietude, que sabem olhar para frente com coragem, que lutam com entusiasmo pelo ideal que mantêm vivo por dentro.

Deus permita que daqui uns tempos eu possa olhar para uma foto minha destes dias e dizer-me, sem peso na consciência, que mantive viva a inquietação: essência da juventude.

Na mocidade, na estação fogosa,
ama-se a vida. A mocidade é crença,
e a alma virgem nesta festa imensa
canta, palpita, se exalta e goza.

[Casimiro de Abreu]