— Não dá! Não dá!
— Ai meu Deus!
— Pô, meu. Varou...
— Vira, vira, vira! Vira, vira, vira... [Barulho do choque]
O diálogo desesperado acima, registrado na caixa-preta do Airbus 320 da TAM, foi levado ao ar pelo Jornal da Record de ontem, que mostrou ainda que o descumprimento de uma norma foi determinante nesse acidente aéreo que deixou 199 mortos [entre os quais, a peabiruense Zenilda Cunha].
Foto: Peabiru.net
A reportagem exibiu também as pilhas do inquérito policial que já têm mais de 13 mil páginas. Nelas, consta o depoimento do tenente Gilberto Schitiini que, na época, era gerente da Agência Nacional de Aviação Civil. O tenente faz referência a uma determinação acordada numa reunião em 13 de dezembro de 2006, entre a Gol, a TAM, a Bra e a ANAC, proibindo o pouso de aeronaves com reverso pinado [travado] em pista molhada no aeroporto de Congonhas. Se essa norma tivesse sido levada em consideração, certamente a maior tragédia da aviação brasileira teria sido evitada.
Eu estava na Itália quando o acidente aconteceu, participando dum congresso. Além da tristeza que certamente arrebatou o Brasil inteiro, senti uma vontade tremenda de voltar para casa. [E ali, bem longe da Pátria, eu entendi e senti pela primeira vez o que talvez signifique Pátria.]
Voltei dois dias depois, conforme previsto.
Desembarcando no Aeroporto do Galeão, no Rio, me vi no meio dum caos duzinferno: tive que encontrar, no meio daquele vuco-vuco insuportável, a agência da TAM para, finalmente, embarcar pra São Paulo. Aconteceram algumas coisas engraçadas que prefiro não escrever aqui para não perder o foco do assunto principal. Mas, caso queiram saber, me adicionem no MSN [sexugi@hotmail.com].
Pois bem, cheguei a São Paulo ainda à noite, onde era visível o abatimento das pessoas. Era como se todo mundo tivesse perdido um familiar naquela maldita aeronave.
Eu estava de volta ao Brasil, de volta à minha gente, à minha língua [com suas crases facultativas antes de pronomes possessivos]. Mas também de volta ao Brasil da impunidade, do conformismo, do descaso, do jeitinho.
Um ano depois, aquilo que não precisava mudar, mudou: o acento agudo nos ditongos abertos e nas proparoxítonas precedidas de ditongo; o circunflexo em palavras com hiato; a maioria dos hifens; o acento diferencial; e o trema [até meu querido trema] já estão todos no Airbus 320 do acordo ortográfico, prontos pra lançar vôo.
Enquanto isso, na Sala da Justiça [ou da Injustiça], a fome, a miséria, o desemprego, a impunidade, a corrupção [a putaria escancarada da corrupção], o analfabetismo [das letras e da política], a desordem, a estupidez e o caos continuam mais vivos do que nunca, bem seguros, em terra firme. A morte, paradoxalmente, também continua viva.
Vive. Mas a esperança também.
2 comentários:
Parabéns pela sensibilidade de seu texto.
Vlw, Neto!
Abraço!
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