sábado, 28 de junho de 2008

Lingua Latina viva est

O latim morreu e estudá-lo é inútil. Pelo menos é essa a idéia que se difunde e que vem ganhando força ultimamente, tanto nos setores da educação, quanto nos ambientes religiosos. Tratar-se-ia de uma língua sepultada num passado remoto e que deveria ser eliminada, dando lugar ao estudo de outros idiomas vivinhos-da-silva e que supostamente impulsionariam o indivíduo ao futuro como, por exemplo, o mandarim. Segundo essa mesma tendência, o ensino de uma língua "defunta" beneficiaria unicamente seus professores que, por esses mesmos supostos benefícios próprios, empurram a língua latina aos acadêmicos goela abaixo, sem dó.

Eu penso que alguém que decide cursar uma faculdade, tanto de Letras quanto de Direito, escolhe voluntária e automaticamente estudar o Latim já que é parte integrante da grade curricular; ou no mínimo, por isso mesmo, deveria estar consciente da relevância desta disciplina para o curso que freqüenta e, sobretudo, para a sua própria formação pessoal e profissional. Todavia, entre os acadêmicos é muito difundido o desprezo por aquilo que cheira a "mofo". Às vezes, por culpa dos próprios docentes que, conscientes ou não, acabam contribuindo para a recém-superfluidade do latim ganhe espaço: seja por meio de aulas pouco atrativas e desprovidas de nexo; seja pela própria carência de estudos pedagógicos sobre.

Ainda assim, acredito que taxar o latim como uma língua morta seja um ultraje violento ao idioma que continua vivo nas nossas profundas raízes, na genética da nossa identidade coletiva, da nossa visão de mundo, dos nossos ideais, do nosso senso de beleza, justiça e liberdade.

A língua latina é a mãe da nossa cultura (mesmo da nossa pluricultura brasileira), de modo que o percebemos vivo nas palavras que pronunciamos cotidianamente, já que o português é fruto do latim; já que quase todas as palavras que saem da nossa boca são vocábulos de origem latina. Além disso, encontrar nos textos clássicos os nossos mesmos medos, as nossas perplexidades, percebendo que, apesar das constantes mudanças na sociedade, os nossos sentimentos continuam são comuns àqueles das grandes personalidades do passado. E isso faz com que nos sintamos menos sozinhos e mais reconfortados com a fragilidade e as limitações humanas que, como o latim, são atemporais.

A língua de Cícero, diferentemente do inglês, do alemão, do italiano, do português e das demais que servem para nos comunicarmos com o mundo, nos coloca diante das nossas origens e nos confere uma consciência no falar e no exprimir-nos, bem superior àquela que todas as outras línguas modernas possam nos oferecer. Temos uma aproximação com a realidade e de tal modo mais profundamente, mais analiticamente, que conseguimos uma mente mais aberta, mais ampla. Sem o estudo do latim, não compreenderemos plenamente a linguagem nem o pensamento europeu e latino-americano.

O latim é único. Insubstituível!

Mandarim? Bah!



No vídeo acima, uma releitura de "O Fortuna", pelo grupo alemão Highland. Trata-se de um hino de louvor à deusa Fortuna que, conforme sua própria vontade e sem olhar o mérito dos mortais, concedia-lhes ou retirava-lhes a sorte. É, antes de tudo, um belo poema em língua latina.

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