quinta-feira, 4 de julho de 2019

Moro & Dallagnol: uma novela da Globo


Vinte e oito de agosto de 2017. Pelo tapete vermelho, pomposamente estendido no Park Shopping Birigüi, altivo, o então juiz Sérgio Moro desfila, de braço dado com sua cônjuge, rumo à Sala 1 do cinema anexo. Num assento de destaque, ladeado da amada Rosângela, de Dallagnol – o do PowerPoint – e de baldes de pipoca, Moro é aplaudido pela plateia curitibana, enquanto assiste, felicíssimo, ao pré-lançamento de Polícia Federal: A Lei é para todos, longa-metragem baseado na Operação Lava Jato, sob inédita "consultoria" da própria PF. Certamente, um momento de glória para o célebre maringaense, após a sentença que emitira um mês antes, condenando o ex-presidente Lula a nove anos e seis meses de prisão, por "fato de ofício indeterminado", seja lá o que isso queira dizer.

Não terá sido, contudo, a única vez em que a história oficialmente contada da perspectiva dos mocinhos virou ficção cinematográfica. Em 2018, coube ao cineasta José Padilha inspirar-se nas aventuras dos garotos da "República de Curitiba" para produzir O Mecanismo, série lançada mundialmente pela Netflix que carrega nas tintas para aprofundar o contraste barroco entre o bem e o mal, entre Moro – um santo de balança na mão e venda nos olhos – e Lula – um capeta em forma de político –, de tal modo que a famosa frase de Romero Jucá sobre "estancar a sangria" – por meio de "um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo" – foi parar na boca da personagem "livremente inspirada" no petista. Tudo para impregnar na figura do ex-presidente a condição do típico antagonista.

Eis que essa narrativa, também canonizada pelo Jornal Nacional em reprises e remakes diários ao longo dos anos, foi, nas últimas semanas, improvisamente destruída pelo norte-americano Glenn Greenwald, um jornalista reconhecido internacionalmente que escancarou aquilo que as telas – do cinema e dos telejornais – não tinham mostrado até então. Os vazamentos das conversas pouco republicanas entre o então juiz Sérgio Moro, hoje ministro do adversário de Lula, e Deltan Dallagnol – coordenador da força-tarefa – revelam que houve, senão um cambalacho entre eles, uma evidente parceria – demonstrada por inúmeros papos via Telegram, hoje públicos graças ao The Intercept – para condenar Lula sem provas e – como reconhece Dallagnol nesses vazamentos – sem convicção.

Tal reviravolta revela que a maior operação anticorrupção do mundo, como se autoproclamava a Lava Jato, tem muito mais de novela da Globo, produto televisivo mais visto no Brasil, que propriamente obra da Sétima Arte: não apenas porque o caso Morogate fez ressurgir, nas redes sociais, o inesquecível Tonho da Lua (Marcos Frota), personagem de Mulheres de Areia, e o Pavão Mysteriozo do cantor cearense Ednardo, da clássica trilha sonora de Saramandaia, ou pelo fato de que a emissora carioca é mencionada inúmeras vezes nos chats como atriz coadjuvante e coautora – nunca como figurante! – da trama, mas, sobretudo, porque é possível ler, nesses imprevisíveis desdobramentos, curiosas características de teledramaturgos globais, como Aguinaldo Silva – bolsonarista, autor de Roque Santeiro e Senhora do Destino – e João Emanuel Carneiro – que escreveu Avenida Brasil e sem ideologia política notória –, nos acontecimentos e personagens do enredo que demonstra, nesse caso, que a vida é que imita a expressão artística mais amada pelos latino-americanos: a telenovela.

Além da política, tema recorrente nas novelas desde O Bem-Amado, julgamentos – justos ou questionáveis – sempre foram retratados pela teledramaturgia, geralmente, na reta final das produções ou, como é o caso da Tupi em A Ré Misteriosa e O Julgamento, na história inteira, da qual o próprio judiciário era protagonista. O que o núcleo artístico da Globo ainda não produziu – e, portanto, ainda não entrou "para os anais e menstruais de Sucupira e do País", como talvez dissesse Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) no caso em tela – é esta brusca guinada que Glenn impôs à narrativa oficial, que, "deverasmente", deixou os fãs do ex-magistrado com cara de seu-Malaquias-cadê-minha-farofa.

Ainda assim, o revés é similar, por exemplo, ao que vimos em A Favorita. Nesse folhetim de João Emanuel, quem o foco narrativo nos fazia supor ser a mocinha era, na verdade, a vilã: embora jurasse inocência, o desenrolar dos capítulos revelou que Flora (Patrícia Pillar) tramava com Silveirinha (Ary Fontoura) contra Donatella (Claudia Raia). Na novela da vida real que influenciou as eleições de 2018, resultando na prisão do líder absoluto nas pesquisas e na vitória de seu opositor – vítima de uma facada verossímil – o juiz do processo abandonou a necessária imparcialidade para combinar estratégias de acusação com os procuradores, o que é vedado pela Constituição Federal, pelo Código Penal, pelo Código de Ética da Magistratura e, e particular, pelo bom senso que pressupõe uma equidistância isonômica do juiz em relação às partes.

É verdade que, mesmo antes de os diálogos impudicos virem à tona por meios ainda sigilosos, Moro sempre deu bandeira de que seguia um roteiro próprio, discrepando da equanimidade romantizada que Bonner lhe atribuía todas as noites antes da novela das nove, já que o magistrado nunca escondeu uma proximidade pública com adversários históricos do PT, quando as lamparinas do juízo já pareciam apagadas. Participou, por exemplo, de muitas solenidades com o tucano antipetista João Doria – nem João (Tarcísio Meira) e Jerônimo (Claudio Cavalcanti), os Irmãos Coragem mais chegados, frequentaram juntos tantos eventos – e permitiu que seus lábios estreitos fossem fotografados, aos risos, à lábia de Aécio Neves – só as bocas de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) de O Clone eram mais próximas! –. Até Beto Richa tem closes ao lado do então juiz: cada mergulho é um flash! Não bastasse isso, os diálogos revelados em 18 de junho mostram que, para não "melindrar alguém", Moro questionou que o maioral do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, fosse ao menos investigado: "prevaricação" compartilhada por Dallagnol, avaliou o jornalista responsável pela divulgação dos vazamentos, para não favorecer Lula junto à opinião pública. Na acusação, vale relembrar, o mesmo empresário que delatou favores ao petista no bendito sítio, relatava pagamento de uma bolada a FHC por ocasião das eleições. Insha’Allah! Esse capítulo da novela, em especial, faz o telespectador mais atento inferir que o juiz decidia politicamente quem o Ministério Público Federal devia mirar.

Falando em Dallagnol, a figura devota e cândida do "procurador longilíneo de bochechas rosadas", como um site de palestras anunciava o fervoroso batista que elaborou o espetáculo midiático sobre a alegada culpa do ex-metalúrgico que ascendeu ao cargo máximo do país, apesar de não estar certo da solidez dos argumentos dos próprios slides – como demonstram seus diálogos vazados – encontra possível paralelo numa personagem cômica de Aguinaldo Silva do final da década de 80: Perpétua (Joana Fomm), a irmã beata de Tieta (Betty Faria), que detestava o fato de que uma nordestina, que saiu humilhada de Mangue Seco, fosse dar a volta por cima em São Paulo e ser amada pelo povo simples. Austera e intransigente, apontava pecados em todos: "quenga!", sentenciava, sem piedade, em sotaque nordestino, até às amigas próximas que tentavam a felicidade. O final revelou, entretanto, que a eterna viúva conservadora era, na verdade, uma grande hipócrita: guardava um segredo imoral numa caixa branca dentro do guarda-roupa. Eta lelê!


A caixa branca de Dallagnol é, por assim dizer, a caixa preta tragicômica do lavajatismo: por ela, sabe-se que seus discursos eloquentes com típico sotaque pato-branquense – muito parecido, aliás, ao da Bozena em Toma Lá, Dá Cá, também nativa do Sudoeste Paranaense – tinham alvo certo: Luiz Inácio. Os polêmicos diálogos sugerem uma manipulação da operação, um afrouxamento dos critérios de investigação, de modo que tudo fosse como no seu PowerPoint, ou seja, informações aleatórias artificialmente justapostas apontando, como tridentes afiados do Tinhoso, na direção de Lula do Agreste.

A Vaza Jato, como estão chamando o escândalo nas redes sociais, faz mesmo crer que a Lava Jato seja, de fato, uma típica novela da Globo, com muitos núcleos, personagens e reveses. Greenwald divulga, nos trinques e com a colaboração de outros veículos e jornalistas – incluindo o insuspeito Reinaldo Azevedo, criador dos termos "petralha" e "esquerdopata" –, as informações eletrizantes em capítulos bem divididos: até agora, só foram sete. Quantos serão ao todo? "Mistéééério", diria Dona Milu (Mirian Pires). O fato é que, ao término de cada um, surgem reclames, como chamadas das cenas dos próximos capítulos, o que deixa os telespectadores grudados à História, com agá maiúsculo. Tô certo, ou tô errado?


A julgar pela calma com que se desviou do cerne das perguntas na CCJ do Senado, o ex-juiz – e, quiçá, seu fiel escudeiro evangélico – talvez imagine que as cenas mais bombásticas já tenham sido exibidas e que, portanto, a audiência tenda a cair. Stop, Salgadinho! Glenn já antecipou que o melhor está por vir: é sempre assim nas novelas. Não seria de se duvidar que, nos últimos capítulos, um novo mistério, similar ao "Quem matou Odete Roitman?" de Vale Tudo, ganhe um revival eletrizante. É justo. É muito justo. É justíssimo!

O fato é que, a se intensificarem os vazamentos, em breve, veremos Lula, de vermelho-petê, em câmera lenta, retornando triunfante do cárcere da sede da PF em Curitiba – onde continua preso apesar das revelações – para repetir a principal frase de O Outro Lado do Paraíso: "Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta"...


Fábio Sexugi

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Educação de Peabiru é destaque no G1

Alunos comem filé de tilápia, costela e 9 tipos de salada em escolas no PR

Merenda inovadora é servida em escolas municipais de Peabiru, no norte. Ideia é seguir tradições culinárias da região, além de melhorar a nutrição.

Erick Gimenes do G1

'Muitos pais dizem que a comida da escola é melhor que eles têm em casa', diz secretário. (Foto: Prefeitura de Peabiru/Divulgação)


Os alunos da rede municipal de ensino de Peabiru, no norte do Paraná, têm prato muitas vezes raro em mesas brasileiras: o cardápio do recreio inclui filé de tilápia à milanesa, galinhada, "vaca atolada" (prato típica da culinária caipira, com costela bovina e mandioca como principais ingredientes), arroz carreteiro e nove variações de saladas.


Além da merenda, os estudantes ainda ganham, todo dia, uma fruta diferente de sobremesa. A mudança na composição do prato foi feita no começo do ano letivo de 2014, segundo o secretário de Educação do município, Fábio Sexugi, para contemplar as necessidades nutritivas das crianças e adolescentes e, principalmente, para respeitar as tradições culinárias da região.

"Readaptamos a forma de preparo dos alimentos, para estimularmos uma alimentação saudável e com as tradições que temos por aqui. Crianças que, no ano passado, não comiam no colégio, agora esperam por essas refeições. Quando fizemos uma galinhada, por exemplo, nos preocupamos por ser um prato pouco aceito entre as crianças. Depois que servimos, a realidade foi outra: tivemos que fazer bem mais do que o previsto", lembra o secretário.

A merendeira Angelita Bonfim conta que o novo cardápio tem boa aceitação dos alunos. "É uma novidade muito boa na escola. Quando preparamos almôndegas ao molho, um prato que é inédito na merenda, as crianças adoraram".

De acordo com Sexugi, a intenção é que a próxima iguaria servida aos alunos seja a carne de carneiro, típica do norte paranaense. "Muitos pais nos dizem que a comida na escola é muito melhor do que a que eles têm em casa. Queremos criar um bom hábito alimentar nessas crianças, para que se desenvolvam melhor".

Atualmente, 1,4 mil alunos estudam nas nove escolas da rede municipal de Peabiru, conforme números da Secretaria de Educação. O orçamento anual para a compra merendas é de R$ 478 mil, conforme a Prefeitura.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Entrevista

O poeta conterrâneo Arleto, responsável pelo blog da Associação Peabiruense para o Desenvolvimento das Artes [APDARTES], fez uma entrevista comigo, transcrita na seqüência. Ao Arleto e ao pessoal da associação, meu agradecimento!
ENTREVISTA COM O ARTISTA

S E T E
PERGUNTAS PARA

FÁBIO SEXUGI


Fábio Sexugi (Campo Mourão / PR, 1980). Educador e professor de latim e italiano, nasceu poeta, mas só se deu conta disso em 2008, quando começou a publicar seus rabiscos. Paranaense de nascença e coração, o neopoeta é peabiruta, ou seja, peregrino do famoso Caminho do Peabiru, uma trilha indígena milenar que cortava o Paraná, ligando o Chaco Paraguaio ao litoral brasileiro. Fábio tenta encontrar na poesia aquilo que os índios buscavam percorrendo essa estrada sagrada: a Terra-Sem-Males, uma espécie de paraíso. Às vezes consegue achá-la (como quando venceu o IV Concurso Internacional de Poesia Latino-Americana na categoria "Espiritualidade") e fica contente. Quando não consegue, pára, ri de si mesmo, reflete um pouco, toma uma xícara de café (bem forte) e tenta de novo. No primeiro certame literário que participou, Sexugi obteve o 1º lugar, com o poema concreto "Xícara" no I Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio de Belo Horizonte. Amante da língua dantesca, foi selecionado para integrar a Antologia Comemorativa Ítalo-Espanhola dos 40 Anos do Prêmio Júlia de Gonzaga, do Castello di Fondi, no Lácio, bem como a Antologia Parole e Poesia das Edições Il Fiorino, da cidade de Módena. Em abril de 2009, conseguiu um feito inédito para poetas paranaenses: arrebatou o 1º lugar no Prêmio Primaverart, em Lecce, no Sul da Itália, onde também foi contemplado com o prêmio da crítica para a literatura.

1. João Cabral de Melo Neto disse que poesia é mais transpiração que inspiração. Escrever para você é um ato de prazer ou de dor?
FÁBIO: Escrever é um parto: um processo que costuma ser complicado pra caramba e que requer do poeta as duas coisas, que se complementam. Digo isso porque já tentei escrever sem inspiração, contando apenas com a técnica. Não deu certo, porque, por mais esforço que se faça, é como parir um filho que não existe. É trabalho estéril. Não consigo escrever sem uma gestação literária, que pode durar um minuto, meia hora, sei lá, um mês. E também nesta gravidez há muito de transpiração, pois é nesta fase que o poema vai ganhando forma. Por outro lado, para que a inspiração lírica se concretize na musicalidade da palavra, na materialidade do papel, é preciso suor, sem o qual não se pode falar em fazer literário. A inspiração está por toda a parte. Prendê-la à letra é que são elas. Por isso, não acredito muito nessa idéia de composição poética passiva, como um ato de psicografia. O nascimento do poema é dolorido. Dolorido, mas agradável e instigante, porque nele, o poeta é filho, mãe, parteiro e o próprio parto ao mesmo tempo. Coisa de doido. De doido doído.

"Posto que sou asas
Sobrevôo-me
Eutmosfera"

2. Em algum momento você já pensou em parar de escrever, mandar as favas a força que te move a rabiscar os versos e calar-te?
FÁBIO: Eu sempre paro de escrever. Paro e escrevo de novo e paro mais uma vez. É que rabiscar é como o próprio coração que bate, mas, antes que bata novamente, há um momento de silêncio. Bate e pára e bate de novo. No ano passado, por exemplo, escrevi bastante. Em 2010, para poder me aventurar um pouco pelo universo do conto (que me exige mais tempo) tive que dar um tempinho nos versos. Mas, o que eu gosto mesmo de fazer é poesia. Às vezes, a pausa – necessária – acontece por falta de inspiração. Outras, como agora, por mera falta de tempo mesmo. É o sistema capitalista sufocando o poeta.

"Minha casa tem gosto de Carneiro ao Vinho,
Sabor sagrado, segredo sangrado no sul.
É terra rubra que pinta o pé pelo caminho,
é sossego, saudade e sol. É Peabiru."

3. Dostoiévski disse que ele acreditava em Deus, mas Deus não acreditava nele. Diante de sua poesia Parafina (premiada no Uruguai), onde se tece um breve tratado sobre a fé, a literatura universal pode fortalecer ou apagar a chama da fé?
FÁBIO: Para ser honesto, não sei se a literatura aumenta ou diminui a fé. Mas, uma coisa é certa: as letras certamente são capazes de nos tornar mais próximos daquilo que é sublime, transcendente, criativo: distintivos de Deus que se escondem em cada pessoa e que a literatura pode revelar. Acho natural que as coisas nas quais acredito, volta e meia, apareçam nos meus versos. Como católico e latino-americano, compus alguns poemas para a Virgem Maria, de quem venho aprendendo a ser devoto. Allah também aparece na minha poesia quando o sangue libanês fala mais alto. No poema Parafina, quis tratar de uma característica da humanidade que, desde que o mundo é mundo, se confronta entre a crença e a incerteza. É que eu encaro a dúvida, mais que um antônimo de fé, como um instrumento positivo que aproxima o homem e a mulher da verdade, da ânsia de querer saber mais, de conhecer além, de entrar em contato, de explorar aquilo que não é totalmente explorado. Há uma tendência histórica em mistificar a fé. Para mim, que tento me equilibrar sobre ela, existem muito mais mistério e poesia na dúvida que propriamente na fé. Duvida?

"Céu lustroso
sem nuvem alguma
Um grilo ocioso
conta as estrelas
uma por uma"

4. Dylan Thomas, Virginia Woolf, Hemingway, Silvia Plaft sucumbiram a sua tragédia interior: partiram cedo pelo álcool ou deram fim a vida. Diante deste quadro, o escritor é um super-heroi dotado de visão raio-x, de poderes diferenciados ou é um simples homem-comum-covarde?
FÁBIO: Quem escreve tem, por natureza, uma sensibilidade mais acurada que as outras pessoas. Para o escritor, um amor é sempre intenso e uma dor é dor aguda, ainda que às vezes, como definiu bem o Pessoa, seja só fingimento. Mas o fato é que essa exposição mais violenta aos sentimentos – ou mesmo, à ausência deles, ao tédio – faz com que alguns se submetam ao extremo, tirando veneno dos próprios versos. Também o leitor está sujeito a isso, infelizmente. Assim, quem doma a palavra tem nas mãos uma responsabilidade terrível. Não vejo lirismo nas sombras e acho que não vale a pena compor poemas demasiadamente melancólicos, tristes. É a vida o que conta! Por isso, tento escrever poemas mais solares, alegres, que sintetizem o encanto que existe nas coisas simples, corriqueiras. Acho linda a história de uma moça depressiva que desistiu do suicídio depois de ler "Prece" da Helena Kolody, minha poetisa favorita. E isso é muito poético. Assim, quando a letra muda positivamente a vida de alguém, então, o autor pode se considerar um sujeito privilegiado, um herói.

"Quero escrever a palavra mais linda
e deixar pelos muros versos suaves
Quero entrar na casa da poesia
e da janela translúcida, intruso,
olhar o mundo além dos horrores."

5. O escritor russo Isaac Bábel disse que “nenhum metal pode perfurar o coração com tanta força quanto um ponto final”. Neste sentido, como escritor, que poderes você atribui a palavra escrita?
FÁBIO: O primeiro poder da palavra escrita é o de comprometer o escritor, porque, ao escrever suas idéias, é a si mesmo que ele aprisiona ao papel. Talvez seja por isso que poucas pessoas escrevam, já que quem se atreve a redigir duas linhas num bilhete de geladeira ou mesmo um livro inteiro arrisca-se, prende-se e fica sujeito à livre interpretação e avaliação do leitor. Sócrates nunca escreveu. Buda também não. Jesus não deixou uma única página escrita. Terá sido porque a escrita seja mesmo uma algema? Seja como for, escrever, como já me disseram acertadamente, é para os loucos que, como eu, teimam em registrar sua percepção do mundo. É loucura porque a palavra escrita é perigosa. E isso é, aliás, o que mais me atrai nela. É perigosa porque, por mais cuidado que se tenha, o autor nunca sabe bem que destino terá sua cria ao ser captada e avaliada pelas pessoas. Outro poder importante da escritura, principalmente na era digital, é a de corrigir estruturas sociais freqüentemente injustas e incomodar, se necessário, até mesmo os tiranos poderosos. A extraordinária força evocativa da palavra escrita dá ao autor essencialmente a possibilidade de ser sentido no espaço e no tempo e de penetrar o imaginário do leitor. Eu gosto desse poder.

"Sopra, brisa pungente, minha vela reclusa!
E move esta nave donzela a epopéias bravias
para as águas gestantes de vãs poesias,
para os mares sedentos desta proa intrusa"

6. Ler e escrever nos permite viajar sem sair do lugar. O que você sentiu ao transgredir essa regra, pois literalmente a literatura permitiu que você viajasse saindo do lugar (Itália mostra)?
FÁBIO: Foi uma experiência inesquecível ter sido premiado na Itália no ano passado. Se já é bom ser contemplado na própria pátria, imagine ser reconhecido num país estrangeiro por composições num idioma que não é sua lingua materna. Os dois prêmios (melhor produção artística do certame e prêmio da crítica pela literatura) que recebi em Lecce (conhecida como "Città d’Arte" e fundada há mais de 2000 anos) tiveram para mim um peso maior, não só porque eu aprecie a língua dantesca, mas principalmente pelo fato de que concorri com escritores italianos consagrados de várias regiões do país. Com isso, me tornei o único poeta brasileiro a vencer concursos literários na Itália, que é berço da civilização ocidental e valoriza como ninguém as expressões artísticas. Fiquei uma semana em Lecce (bem no salto da bota): dei entrevistas a TVs e jornais locais, bati um papo com acadêmicos da Università del Salento, fui recebido pelo prefeito e pelo presidente da província, conversei com artistas italianos supertalentosos, conheci o Mar Adriático, visitei lugares antiqüíssimos – o palácio onde aconteceu a cerimônia de premiação é da época do descobrimento do Brasil! – e, claro, comi muito bem. Além destes dois prêmios, também recebi outros em Portugal e no Uruguai. Confesso, porém, que as premiações na Itália têm para mim um gosto de superação: é que logo na primeira aula de italiano em 1996, meu professor disse que eu talvez não aprenderia tão bem o idioma quanto os demais alunos por não ser descendente. Ele estava errado.

"Ma se Le sembr'affronto
Le chie’dunque per corolle
che mi faccia almeno sole
e divento un bel tramonto"

7. Afinal, Capitu traiu Bentinho?
FÁBIO: Traiu. Aqueles "olhos de ressaca" nunca me enganaram.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Canção para Maria

Numa tarde do ano passado, o músico italiano Diego Salvetti e eu compomos uma canção para que fosse utilizada no tradicional Auto da Via Sacra, na cena em que o apóstolo João consola a Virgem Maria da morte do filho.

A música foi gravada no começo de 2010 pela Banda Luz do Céu, de Curitiba.

Ouçam e comentem!

"Mãe da Dor e da Utopia"

terça-feira, 31 de agosto de 2010

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Xícara na sala

Um agradecimento especial à Prof. Eunice Radtke que levou minha xícara (lembram dela?) para a sala de aula. Ela me mostrou a reprodução do poema que um de seus alunos da 4ª série fez e decidi postá-la aqui.


A poesia foi usada durante um projeto que, entre outras coisas, abordou os poetas paranaenses. À Profª Eunice e a seus alunos, um abraço e um cafezinho!


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Poema do Anu-Preto


Não nasci para ser burro
de carga, de presépio

Não esperem o meu sussurro
quando um grito é obséquio

Não me esperem ir no vácuo
mesmo se não há saída

Nem tampouco pedir bênção
a quem vende a própria vida

Não me digam o que eu devo,
o que eu não devo, o que não posso

Muito menos se intrometam,
no que eu creio, no que eu faço

Não queiram, já aviso,
Ensinar padre a rezar missa:

Eu sei bem por onde piso,
nesta areia movediça

Não me alio a puxa-sacos
de opressores, da elite

Não tolero um só palpite
de quem quer o meu “amém”

É que anu que come pedra
Sabe bem o cu que tem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Saudades


Não sei porque
esta tarde tão lenta
de repente alimenta
o pensamento em você

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Caminheiros


Na correria cotidiana, dividido entre vários locais de trabalho em cidades diferentes, estou sempre na estrada. Aliás, nunca trabalhei tanto. Carros, motos, paisagem e relógio disputam minha atenção ao volante. Porém, nada atrai tanto para si meu espírito quanto as pessoas que caminham na beira da pista, solitárias, sem pressa, indiferentes ao tráfego e ao tempo, pensadoras...

Admiro os caminhantes: são eles os verdadeiros filósofos. São eles que, impassíveis, mesmo sob um sol de rachar e ao barulho do trânsito contíguo, mantêm firme e contínua a marcha poética dos pés e da mente. Em que pensam exatamente, não sei.

Conhecer a reflexão destes que perambulam pelos acostamentos talvez seja uma necessidade natural nestes tempos abarrotados de pensadores “eruditos” (aqueles que inventam conceitos novos e os difundem internet adentro para definir tudo aquilo que já tinha sido devidamente conceituado; que consideram demodè ponderar sobre existencialismo, marxismo, teologia e tudo quanto não seja pós-estruturalismo; que elaboram uma linguagem técnico-filosófica própria e fazem com que os demais se submetam a ela; que se esquecem, porém, que seja-lhes necessário morrer cedo: é que os eruditos verdadeiros já descansam em paz há muito tempo). Já estou farto destes “teóricos” repetitivos, iguais, estáticos.

Pra saber do que falo, bastaria lembrar que Sócrates filosofava e ensinava caminhando; Sidarta (que nasceu enquanto a mãe peregrinava) vagabundou um tempão pela Índia; Jesus fez o mesmo na Palestina e não parou nem no sábado. Por isso, insisto: a verdadeira filosofia se faz caminhando, porque quem caminha pensa.

Quem sabe, não estejam por aí outros grandes caminhantes. Gostaria de saber, pelo menos uma vez, o pensamento de tais filósofos silenciosos. Talvez seja a hora de eu começar a caminhar também...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dois anos


Hoje o Blog El Peabiruta completa dois anos. O primeiro post foi justamente sobre o porquê do título: sua relação com o misterioso e milenar Caminho do Peabiru e a busca utópica pela Terra-Sem-Males, passo a passo, verso a verso, numa trilha que, embora antiga, precisa ser desbravada a cada movimento.

E o movimento – quase sempre tímido – da escrita é, para mim, uma exigência; é uma necessidade impertinente de arrancar dos caminhos sombrios da mente pensamentos teimosos para, em seguida, reorganizá-los, palavra por palavra, num percurso novo, escrito. Isso, porém, não é tarefa fácil, sobretudo quando as idéias não se submetem à linearidade rija da escrita e, caso peguem um vento forte, como esses de inverno aqui em Peabiru, são capazes de levar-me consigo à deriva, a bordo de uma canoa guiada por um eu mesmo desconhecido. Quando, todavia, consigo aprisionar as idéias às folhas em branco – de papel ou virtuais – ainda assim me parece melhor cultivar a ilusão de que sou eu a controlá-las, e não o inverso.

Sigo escrevendo e inventando caminhos. Será que um dia eu chego à Terra-Sem-Males?

domingo, 27 de junho de 2010

O tempo não pára!


Fiquei ausente do blog por alguns meses, ora por falta de tempo, ora por falta de saco mesmo. Mas, não parei de escrever, não. Rabisquei alguns poemas e até me arrisquei nos caminhos conturbados do conto, o que me tomou um tempaço.

Nesse período de aparente silêncio, assinei contrato com duas editoras: a Opet de Curitiba e a Saraiva, de Sampa. Ambas publicarão alguns poemas meus em seus livros didáticos, o que me deixou – confesso – muito envaidecido. [Drummond que se cuide! Hehehe...]

Espero arrumar tempo pra postar alguma coisa que valha a pena, e não meros aforismos [excetuando-se, evidentemente os haikais: esses sempre valem a pena!]. Porém, isso só será possível – acho – nas férias de julho. É que até lá estou me massacrando em uma meia dúzia de locais de trabalho diferentes, sempre no ingrato e sedutor ofício do magistério.

Difficile sorbere et simul flare est.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Guaranis

Gosto muito da Pastoral da Juventude e do sonho que ela cultiva no coração de muitos jovens. Gosto de ver os jovens motivando outros jovens a encarar a vida com ânimo e com sonhos. Os jovens, de todos os tempos, precisam de sonhos. Os de hoje, precisam mais.

Estou seguro de que parte da minha formação humana se deu num grupo da PJ, com seus debates, celebrações, festas... Por isso sou grato a essa pastoral por quem não escondo um profundo carinho.

Assim, pra começar as postagens deste ano, escolhi um canto da PJ que sempre me emociona.


GUARANIS

Ah! Quero ouvir as serenatas,
ver crescer as nossas matas e tocar meu violão
Ah! Meu amigo, vem cantar,
pois o dia vai raiar e morar nesta canção
Ah! Que saudades do poeta,
do artista e do profeta que o tempo eternizou.
Ah! Como eu falei de flores,
liberdade, beija-flores, que meu coração sonhou.

Ah! Ver crianças pelas praças,
paz e pipa, pão de graça como o cheiro de hortelã.
Ah! Água pura ali na fonte
e a gente a olhar os montes, sem ter medo do amanhã.
Ah! O meu lindo continente
que fez do sangue a semente, para ver o sol nascer.
Ah! Nossas matas tão bonitas
verdes mares, canto a vida, quando o dia amanhecer.

Ah! Quanta luta na fronteira
tanta dor na cordilheira, que o condor não voou.
Ah! Dança e Terra Guaranis
de uma raça tão feliz que o homem dizimou.
Ah! Vou nos passos de um menino
no meu coração latino a esperança tem lugar.
Ah! Quando bate a saudade
abre as asas liberdade, que não para de cantar.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Poética

Estou farto do lirismo comedido

Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira
(1886-1968)

domingo, 20 de setembro de 2009

Agradecimento


A realidade de Peabiru não é das melhores. Todavia, a situação já foi bem pior antes da chegada dos padres italianos da Sagrada Família de Bérgamo. Com um trabalho sério, dinâmico e comprometido, eles mantêm há duas décadas trabalhos sociais relevantes, como a Escola São José – onde tenho o privilégio de trabalhar – que oferece uma educação de qualidade a mais 350 crianças em período integral; a Casa Lar do Menor Carlinhos, que acolhe menores em situação de risco social; e o projeto Criança São José, por meio do qual os religiosos assistem a centenas de famílias carentes do município.

No vídeo a seguir, produzido em 1997, fica evidente as razões pelas quais Peabiru deve agradecer, e muito, aos padres italianos.



À Congregação da Sagrada Família, meu agradecimento pessoal e sincero.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Trova Mariana


Rabiscar trovas de amor
em tua honra, ó Maria
É para o teu trovador
a mais pura alegria...

sábado, 22 de agosto de 2009

Professor da Fecilcam receberá prêmio

O professor Fábio Sexugi, da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam) vai receber o Troféu Fábio de Carvalho Noronha, uma premiação que é oferecida há 17 anos às melhores crônicas do Concurso Nacional de Poesia, Conto e Crônica da Academia de Letras de São João da Boa Vista - SP.

Com o texto “É hora de dar uma espiadinha!”, sobre reality shows, obteve o primeiro lugar. A cerimônia de premiação acontecerá no auditório da UNIFAE.

O interessante é que São João da Boa vista é vizinha de Limeira, onde, no começo do mês, Sexugi, ficou em segundo lugar no no XII Prêmio Cidadão de Poesia.

Além destes dois prêmios, recebeu outros sete no Brasil, em Portugal, no Uruguai e na Itália.

São eles:
Primeiro lugar no I Concurso Nacional de Poesia Caleidoscópio, promovido pelo Projeto Poesia Pública de Belo Horizonte, em outubro de 2008;

Primeiro lugar no IV Concurso Internacional de Poesía Latinoamericana, categoria espiritualidade, em fevereiro de 2009;

Terceiro lugar no XXIII Concurso Literário Internacional das Edições AG, março de 2009;

Primeiro lugar na categoria poesia e melhor composição literária no III Prêmio Primaverart de Lecce (Itália), em abril de 2009;

Primeiro lugar no Prêmio Letras da Primavera de Anadia (Portugal), em abril de 2009;

Menção Honrosa no X Prêmio de Poesia "Eduardo", de Trentola Ducenta (Itália) em maio de 2009;

Menção Honrosa no IX Concurso de Poesias CNEC/FACECAP de Capivari - SP, em junho de 2009.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

XII Prêmio Cidadão de Poesia


Saiu o resultado do XII Prêmio Cidadão de Poesia, um certame literário que tem por objetivo revelar os novos talentos da lírica em língua portuguesa. Acabei ficando com a 2ª colocação: algo que realmente me deixa satisfeito.

Segue o resultado completo:

Premiados
Primeiro Lugar: Flávia Perez (Campinas/SP)
Segundo Lugar: Fábio Alexandro Sexugi (Peabiru /PR)
Terceiro Lugar: José Carlos da Silva (Mauá/SP)

Menções Honrosas
Alessandra Pires Bertazzo (Curitiba-PR)
Ângelo Pessoa Martins (Cordeiro/RJ)
Carlos Alberto Barros (São Paulo/SP)
Carmen M. da Silva Fernandez Pilotto (Piracicaba/SP)
Fabrício de Queiroz Venâncio (Salvador/BA)
Mariana Ohlweiler (Ivoti/RS)
Sérgio Bernardo (Nova Friburgo-RJ)

A cerimônia de premiação acontecerá no Clube dos Comerciários (entidade que promove o concurso), no no Jardim Limeirânea, em Limeira/SP, no próximo dia 25. A iniciativa do poeta Otacílio Cesar Monteiro, organizador do prêmio, deve ser reconhecida e imitada.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Letras da Primavera


Recebi hoje de manhã, pelo correio, um ofício emitido pelo Prof. Litério Augusto Marques, que é Prefeito (presidente da câmara) de Anadia, cidade portuguesa fundada na época do descobrimento do Brasil, me felicitando pela vitória no concurso literário "Letras da Primavera".

A cerimônia de premiação aconteceu no dia 09 de maio, Dia Mundial da Poesia, na Biblioteca da cidade. Na ocasião, foram lidos o meu poema (vencedor na categoria "Público em geral") e minha mensagem de agradecimento.

No meu discurso, enviado por e-mail aos organizadores do certame, dediquei o prêmio ao poeta anadiense Manuel Alves, um repentista analfabeto, morto no começo do século passado. Sua poesia foi compilada por Tomás da Fonseca. Em Anadia, em homenagem ao poeta, foram dedicados uma rua e um monumento. É dele o poema que segue:

Morri, já não sou poeta,
de escrever cansou a mão!
Os versos que tenho feito
por eles sinto paixão.

Se a poesia tem acções
Que ofendem tanta pessoa,
Porque é que a nobre Lisboa
Festeja o grande Camões?
Mesmo as divinas canções
Vêm do céu por linha recta...
Mas visto que a mão secreta
Constantemente ameaça,
Chegou a minha desgraça:
MORRI, JA NÃO SOU POETA!

Meus versos estão cansados,
Visto que para eles morri...
Estes que eu canto hoje aqui
Fui pedi-los emprestados.
Os meus foram protestados
Por uma infame mão,
Que jurou tentar acção,
Fazer guerra à poesia...
Mesmo quem m'os escrevia
DE ESCREVER CANSOU A MÃO!

Os pastores da Galileia,
Junto à lapa de Belém,
Cantaram versos também
Ao Cristo, rei da Judeia...
Mas hoje a moderna ideia
Ao verso chama defeito!
Consta que um certo sujeito
Mandou já pôr editais
Para eu não cantar mais
OS VERSOS QUE TENHO FEITO!

O grande João de Deus,
Esse poeta moderno,
Por versos mostrou o inferno,
Por versos falou dos céus!...
Porque é que aos versos meus
Se proíbe a execução,
Quando muitas vezes vão
Cingir a honra entre a palma!?
Ai, versos da minha alma,
POR ELES SINTO PAIXÃO!








Obrigado, Anadia!
Obrigado, Portugal!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Germinando


A edição de № 29 da Revista Germina, uma das mais conceituadas publicações sobre arte e literatura do Brasil, dedica um espaço do suplemento literário para a publicação de versos meus em português e italianos.

Além de mim, também estão os escritores: Bruno Prado, Camilo Lara, Carlos Perktold, Casé Lontra Marques, César Cardoso, Demétrio Panarotto, Eder Fogaça, Eduardo Baszczyn, Emerson Pereti, Felipe Stefani, Fernando Koproski, Jairo Faria Mendes, Juracy Ribeiro, Jurema Barreto de Souza, Leonardo Marona, Maíra Matthes, Marcelo Rocha, Mima Carfer, Nilze Costa e Silva, Ordisi Raluz, Roberto Denser, Sarah Forte, Saulo Marzochi, Tião Martins e Valquíria Rabelo.

Um beijo à Silvana Guimarães, coeditora e designer da revista, que enxergou algo de comestível nos meus rabiscos.

Cliquem na imagem acima, ou acessem o link www.germinaliteratura.com.br/2009/fabio_sexugi.htm e comentem, por favor!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ciao, bella Italia!


O blog completou um ano quando voltei da Itália, trazendo na mala o troféu da crítica para a Literatura do Prêmio Primaverart de Lecce, no extremo sul da Itália, conhecida legitimamente como a Cidade das Artes.


O prêmio, conforme já publicado anteriormente, é uma iniciativa conjunta da administração pública leccese e da Universidade de Salento, que pretende estimular e valorizar novos talentos no cinema (curtas, vídeo-clips e spots), na música (piano, violino e canto), na literatura (poesia em italiano, em dialeto e conto) e nas artes plásticas (pintura e escultura), promovendo mostras itinerantes nos lugares mais sugestivos da antiquíssima cidade (colonizada pelos gregos na época da Guerra de Troia!). Neste concurso recebi dois prêmios: fui o vencedor da categoria “poesia em italiano”, além de ser agraciado com o premio da crítica para a literatura, pela melhor composição de todas as demais subcategorias literárias do certame.

A cerimônia de premiação aconteceu no majestoso palácio do governo e foi presidida pela presidente da 3ª Circunscrição, Mariangela De Carlo, contando com a presença de autoridades locais e regionais, da imprensa e de convidados. Recebi o troféu das mãos do prefeito da cidade, que disse ser importantíssimo receber um prêmio literário dessa magnitude, e mais ainda quando não se é falante nativo da língua, como é o meu caso.

Transcrevo, na sequência, o meu discurso, proferido originalmente em italiano:

“Enquanto saúdo os presentes, desejo expressar minha enorme alegria por estar aqui emLecce, recebendo a premiação desse importantíssimo concurso artístico, o Prêmio Primaverart, que reuniu, como os senhores sabem, obras de diversos artistas, não somente italianos.

Para mim, que sou brasileiro de origem e de coração, mas também amante da língua dantesca, este prêmio tem um significado muito especial: conforme os senhores mesmos aludiram enfaticamente, sou o primeiro poeta estrangeiro a vencer um concurso literário na Itália com líricas em italiano. Para mim, além disso, é quase inacreditável que minha poesia, que canta geralmente as coisas simples da vida cotidiana, seja reconhecida aqui na Itália, em Lecce, Cidade da Arte.

Permaneci aqui esta semana e pude ver, em cada giro no imponente e belíssimo centro histórico, que o amor pela arte é sem dúvidas uma das principais características dessa cultura há milhares de anos. Portanto, ser premiado nesta terra de cultura milenar causa-me uma sensação inexplicável.

Não posso, portanto, deixar de agradecer a Deus, a minha família, aos colegas, amigos, alunos e leitores. Um agradecimento de coração à Srª Mariangela De Carlo, presidente da 3ª Circunscrição de Lecce, pelo apoio e pela atenção durante minha estada na Puglia.

Assim diz Camilo Castelo Branco, grande nome da literatura portuguesa: ‘A poesia não tem presente: ou é esperança, ou é saudade’. Assim, espero verdadeiramente que a poesia estimulada pelos senhores possa recordar sempre ao povo leccese o seu glorioso passado, com nostalgia, com ‘saudade’, e o leve a escrever, em belos versos, o próprio futuro.

Muito obrigado a Lecce, terra que levarei comigo dentro do coração com muitas saudades.”

Após a cerimônia, segui para a Universidade de Salento, para uma conversa com os alunos de Letras sobre Literatura Brasiliera e sobre o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

Certamente, foi um dos momentos mais importantes e emocionantes da minha vida. Espero que essas premiações motivem a tantos outros, peabirutas ou não, para que também sintam essa ânsia de escrever, de produzir.

Rabiscar, para mim, é uma necessidade, quase física.

Eu vou continuar escrevendo. Conituem lendo meus rabiscos, por favor!