domingo, 28 de dezembro de 2008
Bússola
Vento vagante em meu peito imerso
soprando palavras sem rumo nem rima
num mar de poemas ainda disformes
decerto deserto de versos diversos,
Lúcidos.
Decerto bússola de agulhas incertas
Disturbando o nauta que, embora poeta,
explora inseguro seus versos-dilemas,
prendendo palavras que estavam libertas,
e livrando os sentidos de suas algemas
Ácidas.
Sopra, brisa pungente, minha vela reclusa!
E move esta nave donzela a epopéias bravias
para as águas gestantes de vãs poesias,
para os mares sedentos desta proa intrusa,
Límpidos.
Cruza percursos remotos privados de mapa
e brevemente (que és só fôlego e mocidade)
leva meu poema a mergulhar na saudade,
mas batiza-o somente na palavra que me escapa
Líquida.
Depois traze-o certeiro a esta mesma embarcação,
pois se a rosa-dos-rumos converteu-se na dos ventos,
um sopro que me venha há de mudar-se em alento
e transbordar de poesia o navegante coração
Ínfimo.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Cafezal
Um cheiro vivo cafeeiro pela estrada
Entrando sacro pelo vidro do meu carro
Entrando intruso, meio que tirando sarro
Trazendo à tona aromas doutra temporada
Fragrância alheia aos que habitam as cidades,
Porém perfume a quem do mato se enamora.
Canção da terra incensando a santa aurora,
Louvor-viola arando o peito de saudades...
Reduzo a marcha, estaciono um momento.
Até me vejo bem piá sobre um cavalo,
voando altivo pelo campo tal qual vento.
E ainda escuto a voz materna assim chamá-lo:
— Vorta depressa, pelo Santo Sacramento!
Bendito o cheiro da infância que eu inalo!
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